ISSN 2359-5191

13/06/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 36 - Economia e Política - Pós-Graduação Interunidades em Integração da América Latina
Êxito da Aliança do Pacífico representa desafio para Brasil

O grande avanço da Aliança do Pacífico no ano de 2013 configura um alerta para o Brasil. Colômbia, México, Chile e Peru países pertencentes ao bloco cresceram, cada um deles,  3,1%, a média do PIB na América Latina,  provocando o Brasil repensar seus interesses e sua política de liderança na integração do continente sul-americano.

De acordo com a pesquisadora Regiane Bressan, do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (Prolam/USP), o Mercosul necessita recuperar sua força econômica e comercial para fazer frente à nova aliança que se forma. “A Aliança do Pacífico surge agora com o objetivo estritamente comercial. Eles não pretendem um processo de integração como é o Mercosul ou a União Europeia. No entanto, eles acirraram a competição na região”.

Para Regiane, o fato de o Mercosul , nos últimos anos, ressaltar as afinidades ideológicas, fomentar objetivos sociais, concomitante a inúmeros conflitos comerciais, fez com que ele “deixasse de lado” a questão econômica. Além disso, alguns atores brasileiros, como empresários e representantes da socidade civil, demonstraram maior interesse de liderar países emergentes em âmbito intercontinental. “Com a Aliança do Pacífico,  o Brasil deverá repensar como consolidar seus objetivos de liderança regional”, concluiu a pesquisadora.

Entretanto, Regiane diz ser difícil esta mudança de rumos por parte do Mercosul. A situação econômica bastante complicada  na Argentina e na Venezuela dificulta os investimentos externos nesses países e no bloco como um todo. “Como esses países expropriaram algumas empresas, o empresariado internacional ficou assustado”, afirmou a pesquisadora.

O interesse de países como a Bolívia e o Equador em se integrar ao Mercosul pode ser muito proveitoso ao Brasil, já que poderia representar aumento do mercado consumidor. No entanto, ao analisar a percepção das elites bolivianas, somente o governo parece sustentar a necessidade de integração com o restante da América Latina. “Apesar de ser interessante para a Bolívia, que precisa dos países vizinhos para ter acesso ao mar, o restante das elites bolivianas, no caso partidos políticos da oposição, sindicatos, empresários e atores sociais [ONGs, mídia e intelectuais], não demonstra um apoio efetivo a tal processo”, disse a pesquisadora. Já o Equador vem apresentando interesses divergentes em relação aos seus vizinhos - Peru e Colômbia -, o que dificultaria algumas transações econômicas na Comunidade Andina.

A suspensão do Paraguai na integração do Mercosul, em 2012, foi outro fator fragilizador do bloco. Por se opor à entrada da Venezuela, foi suprimido de maneira não democrática pelos outros integrantes, o que estremeceu a união entre esses países. “É necessário superar esse episódio para haver o fortalecimento do bloco”.

A pesquisadora ainda afirma duvidar do comprometimento do Paraguai para com o Mercosul. Para ela, isso se deve ao fato de o Partido Colorado, de tradição conservadora, ter assumido o governo do país, indo contra os governos do restante do bloco, formado por nações governadas por partidos mais progressistas e sociais.

A divisão de posição das elites do Brasil também atrapalha o sucesso da integração. “A integração da América do Sul não caminha com mais vigor devido a essa divergência interna brasileira. Muitos setores como sindicatos, intelectuais e parte do governo a almejam bastante. Porém, a maior parte do empresariado e alguns partidos políticos preferem acordos extrarregionais”, atestou Regiane. “O Brasil como líder do Mercosul não pode ter essa divisão se ele quer mesmo fomentar a integração, pois fica difícil para o nosso país convencer os outros que nossos interesses estão realmente na região”.


Créditos da Imagem: AFP

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