ISSN 2359-5191

02/10/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 74 - Arte e Cultura - Escola de Comunicações e Artes
Pesquisa estuda novo modo de produção das histórias da Disney
Além dessa constatação, estudo indica que leitor de gibis impresso é diferente do leitor de publicações virtuais
(Divulgação)

De acordo com uma pesquisa em andamento no Observatório de Histórias em Quadrinhos da Escola de Comunicações e Artes (ECA), vivemos hoje um período de grande transformação nos modos de produção cultural e artístico das grandes empresas de entretenimento. Marcado pela sinergia – fenômeno caracterizado pela descentralização do processo de produção e pela criação de uma nova dinâmica de construção dos produtos culturais – esse conjunto de transformações alterou de maneira significativa o universo das ficções.

A pesquisa, nomeada Animação e quadrinhos Disney: produção cultural no início do século XXI, está sendo desenvolvida pelo jornalista pós-graduado em Política e Relações Internacionais, e criador do site jornalístico Animation Animagic, Celbi Vagner Melo Pegoraro.

O estudo aponta que essa nova dinâmica das ficções derivou da multiplicação dos meios de comunicação, ocorrida entre o fim do século 20 e o início do 21. De modo que, com essa variedade de ferramentas, a propagação do produto cultural está cada vez mais segmentada. “Hoje o produto migra de uma mídia para outra de maneira muito mais rápida e eficaz”, afirma Pegoraro.

Nessa nova dinâmica, as empresas, por meio da internet, conseguem avaliar de maneira muito mais efetiva o gosto do público. Assim, a produção das animações e das histórias em quadrinhos estão cada vez mais sendo adaptadas às preferências dos consumidores. “A internet faz com que, através dos bancos de dados que contém informações sobre os nossos gostos, o que consumimos e sobre o que conversamos, a empresa tenha como descobrir qual o caminho deve percorrer na sua produção”, diz Pegoraro.

Mas há um problema. Pegoraro descreve o que ele chama de “comportamento de manada”, que seria um comportamento das empresas de se dedicarem, inconsequentemente, a personagens ou técnicas de produção que estão em evidência por um determinado momento. Com isso, nessa produção voltada para a velocidade, surge o risco da perda de qualidade das histórias. “Nos últimos 15 anos, por exemplo, a animação tradicional feita a mão praticamente desapareceu. É como um comportamento de manada. Se a animação feita por computador está atraindo mais público, todos decidem então fazer animação por computador, sem nenhuma preocupação específica com a história em si”, afirma.

No mundo dos personagens da Disney, ao longo do século 20, havia praticamente apenas o universo dos personagens principais, como o Mickey Mouse, o Pato Donald. Assim como, aqui no Brasil, nós tínhamos o universo do Zé Carioca. Mas, “a partir dos anos 90, tivemos uma enorme diversificação. Várias histórias e personagens foram criadas, de modo que não temos mais apenas o universo do Mickey, ou o universo do Donald”, afirma Pegoraro. Hoje em dia, praticamente para cada série, game, animação, ou seja, qualquer produto lançado, surge um novo universo. “Até o momento, totalizei 122 universos nos produtos da Disney, sendo que a maior parte deles são dos anos 90 para frente”, comenta.

Para cada série, game, animação, ou seja, qualquer produto lançado surge um novo universo

Novas histórias para um novo público

Em São Paulo, na última década, cerca de 1.500 bancas fecharam. Logo, as empresas de comunicação estão tendo que se adaptar a esse novo contexto de consumo. Nessa questão, Pegoraro cita a Editora Abril – empresa brasileira licenciada para a produção e reprodução de materiais ligados à marca Disney –, que está estudando o lançamento de novas histórias em quadrinhos nas mídias digitais, com foco nos tablets para o ano que vem. “E o mais interessante é que eles [da Editora Abril] têm pesquisas provando que o público dos quadrinhos na internet, ou nos tablets, é diferente do público do quadrinho impresso”, comenta. Dessa forma, a produção voltada para o virtual não afetaria a tiragem dos meios impressos, pois se espera que uma nova base de leitores seja formada. “Com a internet, e com tablet, será atraído o público que não está indo nas bancas”, afirma Pegoraro.

Assim, com a adaptação às novas tecnologias, as empresas esperam conseguir formar um público considerável o suficiente para atingirem uma boa estabilidade financeira. No entanto, mais importante que a estabilidade financeira, a qualidade das histórias produzidas não deverá jamais ser desconsiderada, pois é ela quem resulta na fidelidade do leitor de quadrinhos ou espectador de uma animação.

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br