São Paulo (AUN - USP) - São Paulo: Em busca da sustentabilidade é o nome do novo livro publicado pela Edusp e escrito em colaboração por 27 profissionais da área e professores de diversas unidades da USP. A obra, formado por uma compilação de artigos, foi dividida entre quatro grandes áreas da sustentabilidade: infraestrutura, gestão e planejamento, mobilidade, e projetos e paisagem. Com lançamento no dia 27 de novembro, o livro, organizado por Bruno Roberto Padovano, Marly Namur e Patrícia Bertacchini Sala, foi discutido num encontro realizado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da qual os três fazem parte.

O evento contou com a presença dos organizadores e de mais de dez dos colaboradores do livro, e se iniciou com uma breve fala por parte do professor Padovano, especialista em urbanismo sustentável. A obra surgiu, de acordo com ele, da necessidade de ter um veículo para discutir o assunto da sustentabilidade e seus vários aspectos, visto que, devido à enorme complexidade do tema, a tendência é de que sua produção fique demasiadamente dispersa. “O que o livro tenta é”, concluiu ainda Padovano, “de pouco em pouco, fazer com com que todas as pessoas se envolvam”. Além disso, “muita coisa não é divulgada. Os pesquisadores de cada área é que sabem das inovações que estão ocorrendo”, disse a professora Marly Namur, que destacou a importância da obra na divulgação de novidades relevantes ao ramo.

“Partindo do conceito que sustentável é o que tem equilíbrio entre desenvolvimento econômico, social e ambiental, procuramos fazer uma leitura de como São Paulo está”, explicou Marly. “O que se concluiu foi a total insustentabilidade da cidade”, completou a professora, que afirmou que a cidade deixa muito a desejar em todos os quesitos.

O tom extremamente crítico foi regra entre muitos dos autores que se manifestaram durante o debate. Alguns, visivelmente decepcionados, pareciam até ter encontrado em suas pesquisas ainda mais motivos estarem desapontados com a metrópole. “Dá para ser bem pessimista em relação ao Brasil e a São Paulo.”, comentou Gilson Schwartz, professor da Escola de Comunicações e Artes e um dos colaboradores. “Nos perdemos e continuamos a nos perder.” Schwartz que criticou também as políticas recentes do Estado, que classificou como desperdício, citando como exemplo a instalação de zonas de internet wireless em lugares pouco acessíveis ou úteis. O professor, que disse ainda não adiantar discutir planejamento sem levar as pessoas a quem é destinado em consideração, escreveu sobre sobre infraestrutura juntamente com Guilherme Ary Plonski, da Faculdade de Economia e Administração (FEA). A gravidade da situação em que se encontra hoje a cidade levou Plonski até a brincar. “Talvez o nome correto do livro fosse ‘São Paulo: em busca da sustentabilidade perdida’”, em alusão à obra “Em busca do tempo perdido”, de Marcel Proust.

Mais do que apenas elaborar uma check-list com o que é necessário para a criação de uma São Paulo sustentável, os autores disseram prezar muito mais por políticas de inclusão à cidade, visando integrar seus habitantes ao espaço em que vivem e vice-versa. Seu objetivo é que São Paulo, enquanto prospere economicamente, se torne um lugar que possa acolher seu povo, que o faça sentir confortável. “Hoje se pensa muito em quantas unidades [de habitação popular] se constrói, quantas favelas se urbaniza”, observou Valentina Denizo, professora e funcionária da Secretaria de Habitação. “Mas quantas pessoas permanecem nessas unidades? Quantas pessoas se integram à cidade?”.

Também ganharam espaço na obra discussões como distribuição de água e coleta de resíduos, além de mobilidade. “São Paulo tem, no mínimo, duas cidades dentro dela. Uma cidade toda estruturada e uma cidade sem nada. A questão da mobilidade, no entanto, atinge a todos”, lembrou a professora Marly, destacando o estado de calamidade com que convivem muitos paulistanos ao tentarem se locomover pela cidade.