Para trazer à público parte da história arquitetônica da Universidade de São Paulo, o Centro de Preservação Cultural da USP - Casa de Dona Yayá sedia até 21 de fevereiro a exposição “O Tempo das Construções”, que apresenta desenhos, projetos originais e fotografias pertencentes ao arquivo pessoal da Universidade.
Suas construções, antes de receberem alunos e professores, já traduziam visões históricas, de arquitetura e de funcionalidade ao longo dos 79 anos de atividade da Universidade. A importância delas é tamanha que muitas foram tombadas a fim de se preservar não só suas lembranças, mas a concretização dos projetos em patrimônio.
O tempo - como o texto da curadoria da exposição diz ao citar Jorge Luís Borges - é o presente. E esse presente é ao mesmo tempo passado e futuro. Assim, a exposição busca mostrar, hoje, a USP do passado por meio de seus arquivos, e como as ideias que visavam ao futuro se desenvolveram. Ao todo são mais de 40 desenhos inéditos expostos, além de 25 fotografias antigas referentes a 19 bens tombados ou em processo de tombamento (como a Faculdade de Medicina, o prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na Cidade Universitária e o Museu Paulista). “A proposta da exposição é contar essa história da Universidade. Esses materiais retratam sua maneira de pensar e de se organizar”, diz a curadora, Sabrina Fontenele.
A exposição é dividida em três núcleos: Ideia (com desenhos mais soltos e fluidos), Construção (com fotografias e desenhos técnicos como plantas, cortes, detalhamentos de pilar e até mesmo de mobiliário, a exemplo de um projeto de cadeira para a FAU) e Apropriação (no qual são mostrados os edifícios depois de construídos, como foram utilizados, mantidos ou ampliados). Sabrina frisa, por exemplo, o fato de haver na exposição projetos que nunca foram executados, mas que não deixam de representar o pensamento da Universidade. Um dos exemplos é um anexo da FAU Maranhão projetado pelo arquiteto e professor João Walter Toscano, mas nunca construído.
Além do caráter estético da mostra, que conta com desenhos detalhados e fotografias que unem o artístico ao registro, a curadora falou sobre a montagem da exposição e os cuidados para com os materiais. “A própria Casa de Dona Yayá é tombada. Tínhamos, assim, uma série de limitações quanto à maneira de expor. [Quanto aos arquivos] criamos uma mapoteca, que é um móvel com controle de umidade pra receber esses originais”, diz Sabrina. Tais precauções vão ao encontro do trabalho do CPC, que tem a preservação de monumentos e acervos da USP como foco.
Desenvolvimento bilateral
A ideia da mostra surgiu de uma pesquisa do CPC em parceria com a Superintendência do Espaço Físico (SEF) da USP, órgão responsável pelo planejamento, organização, fiscalização e preservação dos espaços da Universidade. De acordo com Sabrina, a pesquisa teve como ponto de partida a atualização de uma publicação do CPC da década de 90: Bens Imóveis Tombados ou em Processo de Tombamento da USP (organizado pela professora Maria Cecília França Lourenço, Edusp, R$ 70). Ainda que sua abordagem fosse precisa e detalhada, era preciso complementá-la.
O CPC analisou cerca de quatro mil desenhos arquivados na SEF de janeiro a março, além de memoriais, negativos, fotografias, entre outros. Segundo o arquiteto Rogério Bessa, chefe técnico da divisão de projetos da SEF, a pesquisa e a exposição foram essenciais para a preservação desse material. “O arquivo tinha um manuseio equivocado e o CPC orientou nosso pessoal, por exemplo, com relação às técnicas de preservação e o uso de máscaras. Hoje temos uma equipe trabalhando no processo de digitalização e de ajuste de metodologia para o armazenamento desses originais. O CPC está nos ajudando nisso profundamente”.
Dessa forma, o trabalho foi de ajuda mútua, uma vez que tanto a pesquisa como a exposição trouxeram resultados para ambos os lados. “A iniciativa é de mostrar ao público e fazer com que a própria SEF reconheça esse material como um patrimônio. O trabalho de pesquisa da exposição foi excelente para podermos compreender e valorizar nosso próprio acervo”, completa Bessa.
A exposição O Tempo das Construções fica em cartaz até 21 de fevereiro de 2014, de segunda a sexta, das 9h às 17h, no CPC-USP / Casa de Dona Yayá (r. Major Diogo, 353, Bela Vista, tel. (11) 3106-3562). Entrada franca.