Conhecido como poeta do aço e do concreto, Hans Günter Flieg é considerado um dos mais importantes retratistas do desenvolvimento industrial e urbano de São Paulo. Nascido na Alemanha e radicado no Brasil, resultado da fuga em 1939 de sua família às perseguições antissemitas do nazismo, Flieg começa a se aventurar no universo da fotografia à partir de trabalhos em ateliês de fotos e estúdios gráficos.
Já na década de 1940, antenado às transformações urbano-industriais na cidade de São Paulo, o ainda jovem fotógrafo começa uma imersão no estudo fotográfico da sociedade paulistana da época, aliado aos trabalhos que começara a desenvolver com empresas e indústrias, que viram no campo das artes uma forma de construir uma nova identidade cultural, não apenas atrelada ao consumo pelo consumo. E é esse mergulho no retrato da urbe e na nova caracterização dos bens de consumo de uma crescente indústria brasileira, inspirado na Bauhaus - escola alemã de design, artes visuais e arquitetura - que definiu precisamente o estilo único do fotógrafo alemão.
Chamando atenção pela sua qualidade técnica, bem como a capacidade de retratar ângulos inesperados em suas fotografias, dando movimento a uma imagem à priori estática, Flieg começa a ser convidado para realizar trabalhos mais elaborados, como o primeiro calendário anual da Pirelli no Brasil e a responsabilidade exclusiva de fotografar as obras da I Bienal de Arte de São Paulo, realizada no MASP, já no início da década de 1950. Este é o período de maior amadurecimento autoral na carreira do alemão, onde passa a colaborar com vários artistas e arquitetos.
A coleção em exposição no MAC, com 220 fotos do acervo do Instituto Moreira Salles, apresenta diversos momentos da carreira de Hans, inclusive o famoso retrato da “Unidade Tripartida”, obra do escultor suíço Max Bill que, no olhar do fotógrafo alemão, dá ao observador uma perspectiva real das curvas, ângulos, luz e sombra da premiada composição do artista concretista.
Segundo Helouise Costa, docente e curadora do MAC, a importância de Flieg vem do fato da fotografia moderna no Brasil ainda não apresentar um estudo aprofundado ao retrato da indústria, arquitetura, design e publicidade. Neste contexto, Hans Günter Flieg “desponta por seu caráter pioneiro e pela excelência de sua contribuição para a profissionalização dessas áreas no Brasil nas quais atuou durante cerca de quatro décadas".
Serviço:
Flieg fotógrafo. Indústria, design, publicidade, arquitetura e arte na obra de Hans Günter Flieg, está em exposição no Museu de Arte Contemporânea da USP: Avenida Pedro Álvares Cabral, 1301. Telefone: (11) 2648-0254. Horários: terça-feira, das 10h às 21h; quarta-feira a domingo, das 10h às 18h; não abre segunda-feira. Entrada gratuita. Até 22 de fevereiro de 2015.