Um estudo da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP - USP) propõe o uso de acompanhamento telefônico para controle metabólico de diabetes mellitus. A implementação da medida faz parte da tese de doutorado de Tânia Alves Canata Becker, e mostrou-se eficaz na mudança de hábitos dos pacientes e na redução de níveis de glicemia, colesterol e pressão cardíaca.
O estudo contou com a participação de 63 pessoas atendidas no Distrito Oeste de Saúde do município de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Divididos em dois grupos de análise, os participantes foram submetidos a uma avaliação médica e coleta de sangue, prévia ao início da pesquisa, em que foram medidos índices corporais como peso, altura, Índice de Massa Corporal (IMC), glicemia, pressão arterial e colesterol. Após essa etapa do processo, os participantes do grupo 1 passaram a receber ligações semanais da equipe de pesquisa, durante quatro meses. Já o grupo 2 passou a contar com uma intervenção por meio de carta, também enviada semanalmente durante o mesmo período, e que continha resultados laboratoriais de exames desses pacientes.
A cada ligação, os participantes foram instruídos a fazer pequenas mudanças de hábitos alimentares e referentes a exercícios físicos que condiziam com a realidade financeira de cada um. Em duas dessas ligações, os pacientes receberam instruções acerca do processo de aplicação de insulina, com o objetivo de avaliar a competência do portador de diabetes mellitus para com o procedimento. Também foi proposta uma meta individual a cada um dos pacientes, com o objetivo de motivá-los a permanecer no programa e ajudá-los a entender como as intervenções possuíam ligação direta com o controle da diabetes.
Após quatro meses de intervenção, foi feita nova avaliação médica e laboratorial de coleta de sangue. Os resultados indicam que, apesar de apresentar pior controle metabólico comparado ao grupo 2 quando do início do estudo, o grupo 1 apresentou as maiores diminuições de níveis de glicemia em jejum e de HbA1c, uma hemoglobina que auxilia na identificação de altos níveis de glicemia a longo prazo. “Estes resultados apontam a real necessidade da construção de um processo de reorientação da atenção às pessoas com diabetes mellitus nos serviços de saúde, pois o cuidado usual face-a-face parece não suportar essa demanda de cuidado”, afirma Tânia. A redução das pressões arteriais diastólica e sistólica também foi significante no primeiro grupo. Houve ainda diminuição nos valores de massa corpórea, colesterol e triglicerídios, porém, no grupo 2, essas redução não foram estatisticamente relevantes.
Atualmente, é longo o período entre o momento da coleta de exames e o retorno ambulatorial ao paciente, o que oportuniza complicações crônicas na pessoa com diabetes mellitus. Além da eficácia do acompanhamento telefônico concluído pelo estudo, o baixo direcionamento de funcionários e recursos tornaria o uso da estratégia viável aos serviços de saúde.
“Esta forma de intervenção não pretende substituir o atendimento face-a-face ou qualificá-lo como inferior, visto que seu sucesso é comprovado por diversos estudos nacionais e internacionais”, lembra a pesquisadora. “O suporte telefônico associado ao cuidado usual busca, na verdade, a complementação do atendimento, pois o telefone é um recurso acessível por grande parte da população.”
Segundo Tânia, a avaliação final dos resultados permitiu concluir que a estratégia de intervenção teve significância estatística em 50% dos parâmetros considerados. Apesar disso, a pesquisadora afirma que o uso do suporte telefônico deve permanecer como uma questão a ser discutida em estudos futuros, pois ainda existem controvérsias sobre sua efetividade.