Aplicar uma técnica que faça o aluno vivenciar situações em sala como se ele não estivesse em uma conjuntura de ensino é a proposta de Wanessa Trevizan, do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP. A ideia se baseou no teórico Guy Brousseau.
O ensino de matemática tem sido muito distante das práticas das pessoas. “São várias fórmulas e ninguém sabe para que realmente serve”, diz Wanessa, que logo se instigou pelas técnicas de educação na área: “Eu sempre me interessei pelo ensino da matemática, sempre tive curiosidade em pensar formas diferentes de ensinar”. Com esse pensamento, decidiu conhecer mais das táticas de ensino: “Comecei a conhecer muitas teorias, autores que falam de formas diferentes, e que dão certos direcionamentos para o ensino. Uma das teorias é a de um francês, Guy Brousseau, que é a didática da matemática”. Dentro da teoria de Brousseau, existe o estudo das chamadas situações didáticas, e uma delas é a dita situação a-didática: “É o aluno vivenciar situações em sala como isso estivesse acontecendo fora do contexto escolar”.
A ideia, a partir disso, é fazer com que o aluno busque por si só ferramentas para resolver os problemas propostos. A questão que Wanessa teve como cerne da pesquisa foi “se o conceito da situação a-didática poderia ajudar o professor a criar situações potencialmente didáticas”, e assim melhorar o ensino, criando ambientes em que o aluno tenha possibilidade de desenvolver sozinho o raciocínio para chegar às respostas. “Fiz isso em algumas etapas”, afirma Wanessa, “trabalhando com o assunto análise combinatória. Aplicamos no terceiro ano, mas muitos já haviam visto o assunto em cursinhos, da maneira mecânica, tradicional”. Com esse problema, ela resolveu aplicar no segundo ano. “Apliquei o projeto com essa turma, por um tempo maior, e deu para analisar melhor.” Até esse ponto, Wanessa havia aplicado as técnicas, mas nunca observado alguém fazendo isso: “Queria fazer mais uma etapa, observar alguém aplicando”.
“Nessa última parte, fiquei como observadora, e a aplicação fluiu bem. Consegui ver a situação a-didática sendo colocada de fato em prática, tudo foi confirmado”. Além da constatação da efetividade do método, porém, Wanessa ressalta a importância de outras descobertas no decorrer da pesquisa. “Muitas características foram observadas, uma delas parece óbvia mas na prática não é assim”. Ela diz que muitos professores acham que o trabalho de ensinar apenas depende dele, “mas não é algo que você simplesmente transmite para o outro, o aluno precisa querer aprender”. Parte do trabalho, portanto, deve ser o de convencer aos alunos que tal matéria é importante para eles, fazer com que eles de fato queiram aprender, o que pode ser alcançado pelo método proposto. “Quando ele desenvolve o raciocínio, passo-a-passo, dificilmente ele vai perder. Não é uma informação transmitida, é uma trajetória que ele percorreu”. Além disso, ressaltou-se, com a pesquisa, a importância do planejamento: “É importante o professor preparar uma aula potencialmente a-didática, talvez o mais crucial não seja ele em sala de aula, mas todo o planejamento”, conclui a pesquisadora.