ISSN 2359-5191

10/10/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 117 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
Novo kit de diagnóstico do zika será distribuído em 2017
Pesquisadores do ICB buscam viabilizar o kit sorológico em escala comercial
Fonte: iStock

Segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, estima-se que em 2016, até o dia 13 de agosto, 1.426.005 pessoas contraíram dengue, 216.102 foram infectadas pelo chikungunya e outras 196.976 pegaram zika. Dados que possuem uma larga margem de erro em comparação com o número real de infectados, visto que foram considerados apenas os casos suspeitos registrados ao longo do ano. As famosas doenças transmitidas pelo Aedes aegypti são causadas por três vírus muito semelhantes entre si, que geram basicamente os mesmos sintomas – febre, fraqueza, náuseas, erupções e dores, musculares e de cabeça – e que são difíceis de serem detectados através das técnicas de diagnóstico de que dispomos atualmente. Para resolver esse problema, pesquisadores do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas (LDV) do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP), trabalham desde dezembro de 2015 com o desenvolvimento de um kit sorológico que permitirá o diagnóstico do zika vírus de um modo muito mais eficiente.

Atualmente, os indivíduos infectados por alguma das três doenças recebem dos hospitais e postos de saúde o protocolo padrão contra viroses, que consiste basicamente em recomendações de repouso, ingestão de líquidos e remédios que aliviem alguns dos sintomas da doença. É extremamente difícil precisar o número real de casos de zika no Brasil, uma vez que praticamente todos os pacientes com suspeita do vírus recebem um tratamento genérico, muitos outros sequer deixam o lar para ir ao hospital e a grande maioria dos casos da doença são assintomáticos. Muitas pessoas, portanto, não fazem a menor ideia de que contraíram o vírus.

Transmissão e microcefalia

A expansão do zika é estimada com base no aumento da proporção de casos de microcefalia em recém-nascidos. Caso testes diagnósticos eficientes não sejam desenvolvidos, o número de bebês microcefálicos pode atingir patamares alarmantes em um futuro não tão distante, uma vez que pouquíssimos casais estão conscientes de que são portadores do zika. Isso ocorre devido ao fato da infecção geralmente ser assintomática e do vírus permanecer no esperma do pai por um período muito longo, que pode se estender até seis meses. Também há de se mencionar que o uso de preservativos é fundamental na prevenção do zika, já que foram identificados riscos de transmissão sexual em vários estudos científicos e a transmissão da doença através do Aedes aegypti pode ocorrer somente durante um intervalo de até sete dias após o mosquito picar uma pessoa contaminada.

Como diagnosticar

Atualmente, o método mais confiável para se diagnosticar doenças como dengue e zika é o RT-PCR – reação de transcriptase reversa seguida de reação em cadeia da polimerase. Apesar de ser suficientemente preciso para diferenciar os vírus, este método molecular é pouco eficiente, uma vez que o sucesso do diagnóstico depende do paciente ser examinado durante o quadro de viremia, quando o material genético do vírus ainda pode ser encontrado na corrente sanguínea. O indivíduo infectado deve, portanto, ser examinado durante uma curta janela de tempo, visto que o vírus permanece no sangue até no máximo uma semana após a infecção ser contraída.

Já o kit desenvolvido pelo laboratório é capaz de detectar o vírus segundo um método sorológico, ou seja, detecta os anticorpos específicos produzidos por nosso organismo contra os antígenos. Como os anticorpos permanecem no corpo durante praticamente toda a nossa vida, é possível determinar a qualquer momento se a pessoa realmente está infectada pelo zika ou se já contraiu a doença no passado. Para conseguir realizar o teste, o laboratório teve que desenvolver um trecho da NS1 – proteína estrutural comum a alguns tipos de vírus, incluindo os de dengue e zika – que possibilitasse a diferenciação entre eles. Isso ocorre através de uma técnica denominada Elisa:


Robert Andreata Santos, do LDV, explica o procedimento de Elisa: “Coletamos o sangue e pegamos a parte do plasma sanguíneo, que é onde estão os anticorpos. A partir disso pegamos os anticorpos e os colocamos para reagir com as proteínas que nós utilizamos no teste. Depois que esses anticorpos se ligam nas nossas proteínas, conseguimos detectá-los por meio de marcação de cor”. A futura distribuição do kit não deve ser difícil, pois praticamente todos os bancos de sangue e laboratórios de análises clínicas no Brasil já estão devidamente equipados para realizar o Elisa.

Distribuição

O kit foi desenvolvido e padronizado para condições de laboratório com sucesso, mas ainda são necessários testes com amostras de sangue, positivas e negativas para o vírus zika, oriundas de diversas regiões do país para que a Anvisa autorize a distribuição do kit. Além disso, o laboratório estuda maneiras de transformar o kit em um produto comercial viável e busca empresas interessadas em licenciar a patente. A previsão é de que o kit seja concluído e distribuído para todo o país em 2017.

A equipe

A pesquisa foi desenvolvida por Danielle Bruna Leal de Oliveira Durigon, Edison Luiz Durigon, Lennon Ramos Pereira, Luís Carlos de Souza Ferreira, Robert Andreata Santos, Rúbens Prince dos Santos Alves e Viviane Fongaro Botosso

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