ISSN 2359-5191

11/11/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 132 - Sociedade - Escola de Enfermagem
USP produz jogo que auxilia no combate à violência contra a mulher
Apesar de inicialmente voltado para profissionais e estudantes da área da saúde, o jogo está disponível para venda online através do blog Recriar-se
Foto: Blog Recriarse

Lançado em abril de 2016, Violetas: cinema e ação no enfrentamento da violência contra a mulher é um jogo de tabuleiro criado com o objetivo de elucidar questões sobre a violência de gênero para os profissionais da saúde. Idealizado de acordo com a metodologia moderna alemã, o projeto é fruto de uma parceria entre as professoras Rosa Maria Godoy, da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EE/USP), e Maria Raquel Pires, da Universidade de Brasília (UnB).

Rafaela Gessner, doutoranda de Rosa e contribuinte em quase todas as etapas de desenvolvimento do jogo, conta que a professora já havia demonstrado interesse pela criação de uma plataforma como a do Violetas, que mistura a linguagem lúdica com referências cinematográficas e pressupõe a estratégia coletiva para ser jogado. A ideia final surgiu após uma conversa com Raquel, coordenadora do Núcleo de Estudos em Promoção da Saúde e Projetos Inclusivos da UnB (o Recriar-se).

Baseado na estrutura do alemão Pandemia, todos os jogadores de Violetas se tornam parceiros na luta contra um único inimigo: a violência contra a mulher. Para Rafaela, a estratégia adotada é muito importante, pois “serve para mostrar que esse é um fenômeno transversal na sociedade e que ele não vai ser enfrentado sozinho”.

Como funciona

O objetivo final é conseguir juntar quatro tokens e não deixar a violência se espalhar pelo território nacional (o tabuleiro). Os peões andam por casas que ilustram cidades de nomes femininos como Nazaré, Fátima e Iracema.

Os participantes então recebem diferentes funções (educador, operador de direito, integrante de políticas públicas, profissional de saúde e cidadão), e devem se organizar conjuntamente para evitar que as peças pretas se espalhem demais. Para isso, eles respondem questões sobre cenas famosas do cinema, cujas perguntas variam desde termos técnicos relacionados ao papel da personagem no filme a até conceitos legislativos.

Rafaela afirma que essa associação com a sétima arte foi ideia da própria Rosa sobretudo devido à sua grande afinidade com o tema e contribui em muito para a abordagem de um assunto tão pesado com “sutileza e diálogo”: “Queríamos nos aproximar da violência não para gerar estranhamento, nojo ou medo. Pensamos em algo mais leve para fomentar o diálogo e discutir que isso não está somente nas coisas mais horrendas, mas também em atitudes consideradas ‘normais’”.

Para incentivar ainda mais a reflexão sobre hábitos abusivos enraizados no cotidiano da população, Violetas conta com as cartas omissões. Elas são sorteadas aleatoriamente ao longo das rodadas e representam ditos ou costumes frequentemente adotados dentro das rodas de conversa que reforçam o machismo.

A doutoranda relembra as principais dificuldades encontradas pela equipe e as diversas melhorias necessárias para se chegar ao produto final: “Passamos por vários testes. Os primeiros foram com especialistas para validar o conteúdo das questões nas cartelas. Depois passamos para o jogo, onde cada um que jogava preenchia um instrumento dando suas opiniões”.

O tempo de duração da partida costuma ser relativamente longo, o que pode ser explicado pelo grande número de debates e conversas gerados durante seu desenrolar. Se jogado com intuitos profissionais, esse período pode se estender ainda mais, uma vez que “a proposta é de sempre trabalhar o Violetas com alguma ideia de intervenção. Por isso, a gente incentiva a fechar o jogo com algum tipo de debate e conversa posteriores”.

O blog da professora Raquel disponibiliza um tutorial no YouTube com todos os passos e mais explicações sobre as regras para jogar.

Sobre as contribuições

Foto: Blog Recriarse

Foto: Blog Recriarse

Sem possuir fins lucrativos, o projeto fruto da colaboração entre duas universidades já está em vista de ter seus resultados avaliados por estudos da EE. Porém, para Rafaela não há dúvidas: enquanto a metodologia lúdica e a linguagem dos filmes deixam as conversas menos “pesadas”, o tema em si “ajuda a trazer mais luz para o fenômeno”, fazendo os jogadores entenderem “que a violência acontece quando a mulher leva oito tiros do marido, mas também quando fazemos uma piada sobre loiras serem burras”.

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