Arqueologia da cidade universitária

Créditos: Francisco Emolo
A mata muito densa atrapalha o funcionamento do GPS

Créditos: Francisco Emolo
“Temos aproveitado as grandes obras para conhecer um pouco mais sobre a pré-história da região de São Paulo”, diz o professor Di Blasis

 

As ferramentas do dia-a-dia são os aparelhos de localização (bússola e GPS) e os objetos para escavar e peneirar a terra. A força, quem dá, são os funcionários de serviços gerais do museu. A cada 50 metros na mata, um buraco de 80 centímetros é aberto para os olhares treinados identificarem peças que possam indicar ocupação de populações anteriores. A expectativa para a Grande São Paulo é encontrar sinais de povos indígenas, como pontas de flecha, cerâmica ou restos de pedras usadas na fabricação de artefatos do gênero. A partir disso, as características de nossos ancestrais são estudadas.

O roteiro analisado pela USP ainda não revelou nenhum sítio de grande significância, pois a área de morros (ou “pirambeiras”, como preferem os arqueólogos) não favorecia a ocupação humana. O palpite é que os antigos moradores estivessem concentrados no vale hoje alagado pela Represa Billings. “Em São Paulo, a porção entre os rios Tietê e Pinheiros são as privilegiadas para se encontrar vestígios”, garante Paulo Di Blasis, professor do MAE e coordenador do projeto de buscas no Rodoanel. “Mas na área urbana, com a grande ocupação, a maior parte dos vestígios já foi destruído.”

O material arqueológico é patrimônio público e protegido por lei. Grandes obras com potencial para impactar o ambiente são obrigadas a fazer um levantamento que examine a área e, se houver indícios, iniciam-se as escavações para estudar os achados. As buscas no futuro trecho do Rodoanel são resultantes de uma parceria entre a USP e a Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.), empresa responsável pelas obras.

A agricultura mecanizada e a pecuária são os grandes responsáveis pela destruição de sítios arqueológicos no campo. Apesar disso, a legislação não obriga a prospecção prévia, como em outras obras.

 

 

 

 

 

 

 

divulgação
“O nosso museu é o centro com maior concentração de arqueólogos no País.”

 

 

 

 

 

 

Já as pesquisas arqueológicas de cunho acadêmico são financiadas por órgãos públicos como a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), além de outros contribuintes esporádicos. Os gastos com logística e recursos humanos não são baratos, e o trabalho de busca, coleta e exame laboratorial de peças consomem tempo. Assim, 600 mil reais e dez anos são um preço razoável na área.

A USP tem projetos em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais, Goiás e Rio Grande do Sul, mas os principais estão em Santa Catarina e Amazonas. “A maioria da população acha que arqueologia é coisa da Grécia ou do Egito, e não sabe que existe uma pesquisa intensa aqui no Brasil”, afirma o professor do MAE Eduardo Góes, que coordena trabalhos há 16 anos no Amazonas.

O Museu de Arqueologia e Etnologia da USP surgiu em 1989 e reuniu, ao longo desses anos, um acervo com mais de 120 mil peças. Essas coleções servem, ao mesmo tempo, como produto o objeto de pesquisa sobre o Mediterrâneo, Oriente Médio e América, com ênfase no estudo de caso brasileiro.

Segundo o professor Paulo Di Blasis, “a arqueologia revela os diferentes jeitos de ser gente, de ser humano, ao estudar o comportamento de povos em várias épocas. São culturas estranhas em tempos estranhos. Esse aprendizado sobre diferenças nos ensina a tolerância e a humildade”.

Museu de Arqueologia e Etnologia – MAE
Local: Avenida Professor Almeida Prado, 1.466 – Cidade Universitária
Horários: de terças a sextas, das 9h30 às 12h, e das 13h às 17h
Fone: (11) 3091-4905
Ingressos: Entrada franca

Veja mais sobre arqueologia em:

Itaú Cultural
Ampla apresentação da arqueologia e suas atividades.

Arqueologia Americana
Mais específico sobre pesquisas na América. Tem artigos, reportagens, diários e fotos.

Sociedade Brasileira de Arqueologia
Notícias, fóruns e eventos.

MAE da Universidade Federal da Bahia
Atividades e acervo do museu, além de projetos de pesquisa.

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web
www.usp.br/espacoaberto