![©: Cecília Bastos](ilustras/conheca01.jpg)
Nos tempos de censura, o maestro se inspirava
no poeta alemão Brecht: “Podemos fazer uma arte política, mas para ser política de verdade, precisa ser muito bem-feita como arte. Senão não
passa nada.”
![©: Cecília Bastos](ilustras/conheca11.jpg)
Carmen Silgueira trocou as partituras do
coral do exército, onde se apresentava,
pelas canções populares com
o Coralusp em 1967. Aos 73 anos, cantora,
coralista e avó, já escreveu
dois livros de contos e crônicas em
que narra fatos de sua vida. “Eu não
posso falar da minha vida sem falar do coral”,
acrescenta. “Até já pensei
em parar por problemas de saúde, mas
o maestro e o pessoal não deixam.
Acho muito bonito o trabalho que fazemos.
No começo, queríamos provar
que estudante não faz só estudantadas.
Hoje, não somos apenas um grupo que
canta. Somos uma escola.”
|
![](img_internas/teste.gif) |
Segundo o professor e maestro Benito Juarez, que comanda o Coralusp desde a fundação, em 1967, um coral com 40 anos de história no Brasil é tão antigo quanto um coral de 400 anos na Europa. No aniversário de quatro décadas, o Coral Universidade de São Paulo confirma os moldes de uma própria tradição. Embora não carregue o traço secular, essa tradição se fez com outros ingredientes: iniciativa e ousadia.
A idéia prima veio com a chamada “estudantada”. Na década de 60 e 70, o termo “estudantada” era o mesmo que bagunça adolescente-universitária ou, por um viés político, eram as ações tidas como subversivas. Se for assim, podemos afirmar que a parceria entre os alunos da Escola Politécnica (Poli) e as alunas da Escola de Enfermagem (EE) deu início a uma das bagunças mais profissionais e bem-sucedidas dos últimos 40 anos. Em 1967, o aluno José Luis Visconti, então presidente do Grêmio Politécnico, negociou a formação de um coro com a coordenação do maestro Benito Juarez, indicado pelos mestres da tropicália Rogério Duprat e Damiano Cozzella. Era o início do Coral da Poli, reunindo a massa de vozes masculinas que cursavam Engenharia, e as vozes femininas, da graduação em Enfermagem.
O começo foi precário. Ainda sem o suporte da USP, os estudantes tiveram que se desdobrar para bancar a dedicação de Juarez, que já era um profissional formado e precisava de salário, como qualquer pessoa. A solução da moçada, durante um ano, foi organizar uma força-tarefa para levantar recursos com a vendagem de um LP com quatro faixas gravadas pelo coral.
Os encontros do grupo eram realizados no auditório da EE e seguiam em um misto de diversão e compromisso. O Coral era um ponto de encontro para rapazes e moças – tem, inclusive, histórias de casamentos – além de professores, funcionários e comunidade externa com grande interesse pela música e pelo canto coral. A cada semana, seis horas eram dedicadas aos ensaios.
O gosto e seriedade foram reconhecidos com o Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) em 1969, quando o Coral da Poli foi eleito o melhor do Estado. No ano seguinte, a Coordenadoria de Atividades Culturais da USP (ainda não existia a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão) abraçou o grupo, que ganhou suporte e o nome Coral Universidade de São Paulo.
O apoio institucional permitiu a ampliação do quadro de profissionais. Entraram regentes e membros da efervescência artística da época como Damiano Cozzella, Elizabete Rangel Pinheiro, Baldur Liesenberg e, mais tarde, Helena Starzynski.
“Essa equipe foi a mola mestra”, destaca o maestro Benito Juarez. “E foi uma situação muito atípica, porque conseguimos um ponto de convergência entre profissionais altamente qualificados. Certamente eram os melhores da época. Rapidamente o coro ganhou uma grande estrutura.”
|