Por Daniel Fassa


Leia também:
Um dia para ser repetido
Dia Mundial Sem Carro mostra que uma outra São Paulo é possível
Do fascínio ao caos
Sonho de consumo, os automóveis são os maiores responsáveis pelo tráfego pesado em São Paulo; a solução está nos coletivos
O preço da poluição
Em grande parte proveniente dos veículos motorizados, poluição atmosférica reduz expectativa de vida em até um ano e meio


© Francisco Emolo

O médico e professor da USP Paulo Saldiva não tem carro. Há mais de 30 anos, a bicicleta é seu principal meio de transporte: “Andar de bicicleta é possível mesmo numa cidade agressiva como São Paulo.”



A experiência de quem, a pé ou de bicicleta, disputa espaço com as feras motorizadas

São Paulo é a cidade do asfalto, das grandes construções, dos shopping centers, dos cinemas, dos teatros, dos shows, do futebol, das oportunidades. O problema é que os milhares de ruas e avenidas da cidade parecem não dar conta de nos colocar em contato com tantas possibilidades, tal a quantidade de veículos em circulação. A simples perspectiva de perder horas no trânsito nos faz pensar duas vezes antes de sair de casa. Os trilhos, por sua vez, ajudam, mas não nos levam a qualquer lugar nem atendem a todos que precisam. Ir a pé é possível, mas as calçadas não estão lá essas coisas. Bicicleta? Só para quem tem coragem de competir com as feras motorizadas da selva de pedra.

Mariane Cicconi é funcionária da biblioteca da Faculdade de Direito da USP, mora na zona norte e estuda na zona oeste da capital. Todas as manhãs pega dois ônibus para ir ao trabalho e leva, pelo menos, 1h30 para chegar. No final da tarde, gasta mais 1h20 para chegar à faculdade, que fica nas proximidades da avenida Politécnica. Terminadas as aulas, segue para casa numa viagem de uma hora e dois ônibus. “É muito desgastante. Às vezes o trajeto cansa mais do que os próprios afazeres”, relata. Mariane acredita que o transporte coletivo deveria ser priorizado. Sempre que pode, ela também se desloca de um lugar para outro caminhando, mas reclama: “As calçadas estão péssimas. Três anos atrás, quebrei o pé ao pisar num buraco enquanto atravessava a rua”.

A vida de quem se arrisca a andar de bicicleta em São Paulo também não é nada fácil. Quase não há ciclovias. Com isso, os ciclistas são obrigados a dividir espaço com carros, motos, ônibus e caminhões, arriscando suas vidas. O médico e professor da USP Paulo Saldiva não tem carro por opção. Desde o período da graduação, a bicicleta é seu principal meio de transporte. Ele conta um pouco da sua experiência de mais de 30 anos: “A infra-estrutura é horrível. O caminho tem que ser totalmente diferente, você não pode usar avenidas e tem que ser absolutamente defensivo. O risco de acidentes é muito grande. Hoje eu não passo aperto nenhum por causa da atitude. Andar de bicicleta é possível mesmo numa cidade agressiva como São Paulo”.

página 1 | 2 seguinte >

   







web
www.usp.br/espacoaberto