Resumo

Esta proposta de projeto temático tem uma história originária. Ela surge como um desdobramento da própria história do Núcleo de Antropologia da Performance e do Drama (Napedra) – um dos grupos de estudo e pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP – num momento de articulação entre diversos grupos de pesquisa no Brasil voltados aos estudos de performance na antropologia, com destaque à inclusão recente, como membros do Napedra, de professores e alunos do Instituto de Arte (IA), da Unicamp. Nessa interface, onde encontram-se pesquisadores do IA (Unicamp), que aprofundam o seu diálogo com a antropologia, e os do PPGAS (USP), que buscam conhecimentos em estudos de performance, configura-se uma proposta de projeto temático. Cremos que o processo interdisciplinar de elaboração deste projeto temático evoca o próprio surgimento da antropologia da performance, nos anos de 1960 e 1970, quando Richard Schechner, um diretor de teatro virando antropólogo, faz a sua aprendizagem antropológica com Victor Turner, um antropólogo que, na sua relação com Schechner, torna-se aprendiz do teatro. De início, pois, observa-se uma afinidade entre o grupo do IA e os membros originários do Napedra: a elaboração de uma constelação bibliográfica em torno dos estudos de performance de Victor Turner e Richard Schechner.

Os projetos individuais apresentados neste Projeto Temático podem ser vistos como desdobramentos, ou ecos criativos, do diálogo entre Schechner e Turner. Apresentam-se como tranças – uma das noções sugestivas de Schechner – reunindo e, até mesmo, tensionando linhas de estudo a respeito de drama, estética e ritual. São estas as três linhas mestras a partir de quais o Projeto Temático se constitui. Trata-se de diferentes perspectivas para análise de fenômenos da performance.

Os projetos certamente não deixam de revelar tendências quanto às formas de abordar os seus objetos. Escolhas são feitas em relação ao modo de articular as diferentes linhas e perspectivas teóricas. Universos empíricos são definidos e categorias são privilegiadas de acordo com as questões específicas dos projetos. O que ch ama atenção é a trança que cada projeto elabora na discussão da performance.

As escolhas dizem algo a respeito de como o campo vem se constituindo. O movimento que vai “do ritual ao teatro” (“e de volta”), passando pela discussão do drama social, aqui se expressa. Abordagens voltadas para a análise dos aspectos rituais das performances possivelmente se apresentam com visibilidade maior no conjunto dos projetos. A noção de drama social também aparece de forma marcante, sinalizando a importância dessa perspectiva teórica na configuração do campo. As questões sobre performance estética, que se inspiram em estudos clássicos e recentes, apontam para alguns dos horizontes mais interessantes da discussão contemporânea.

Através do debate interdisciplinar que aqui se propõe, procura-se contribuir para a formação de um campo de pesquisa. Supõe-se, nesse caso, não apenas a relevância da antropologia da performance para o estudo das variadas formas de ação simbólica no Brasil, mas, também, a relevância dessas formas para se repensar questões da antropologia da performance.