Este site disponibiliza a versão on line dos oito números da revista Sexta Feira, editada entre 1997 e 2006 por um coletivo de antropólogos. Pretende tornar mais acessíveis textos que ainda permanecem sob circulação restrita, bem como compartilhar um pouco da história desta publicação.
A ideia da revista nasce em 1996 com o encontro destes que são ainda estudantes do curso de Ciências Sociais da USP. Sua intenção é, desde o início, a de provocar um diálogo seja da antropologia com outras áreas de conhecimento, seja entre essa disciplina e a produção cultural e as questões políticas que se fazem notar fora da universidade. Esse movimento de abertura visa um público mais amplo que aquele do leitor acadêmico, visa forçar as fronteiras entre a ciência, a arte e a política.
Os três primeiros números de Sexta Feira são publicados pela Editora Pletora, formada pelo mesmo coletivo de editores. Os números 4 e 5 são publicados pela Editora Hedra, e os números seguintes, pela Editora 34. O número 1 tornou-se possível não apenas pelo auxílio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP, mas também com a arrecadação de fundos por meio de festas. Nos anos seguintes, vieram alguns prêmios, patrocínios e parcerias que permitiram essa realização.
A partir do segundo número, lançado em abril de 1998, a revista torna-se temática. Festas, Fronteiras, Corpo, Tempo, Utopia, Guerra e Periferia: tais são os assuntos que costuram as suas páginas, do número 2 ao 8. Em cada um deles, os artigos misturam-se com outras formas de textos; como poemas, ficções, depoimentos, entrevistas, receitas etc. Nos números 5 e 8, são convidados escritores para compor antologias de poesia e de ficção, respectivamente.
A relação entre o texto e a imagem é marca especial da revista, que compactua a ideia de que imagens são fortes instrumentos de conhecimento. Imagens permeiam todos os números de Sexta Feira, menos como ilustrações que como elementos discursivos. A revista abre também espaço para a análise de diferentes sortes de imagens, sobretudo aquelas fabricadas pelo cinema e pelas artes visuais, campos decisivos da produção cultural contemporânea.
Esse entrelaçamento entre texto e imagem espelha-se fortemente na apresentação da revista, e o projeto gráfico ganha um lugar central. O projeto dos três primeiros números foi assinado pelo coletivo Ateliê Querosene; o dos demais, por Rodrigo Cerviño Lopez. A partir do número 4, a revista passa a convidar artistas-curadores para criarem discursos visuais paralelos àquele composto pelos textos.
Outra marca importante de Sexta Feira são suas entrevistas. Cada número abriga ao menos uma entrevista com um antropólogo brasileiro, além daquelas com diferentes intelectuais e artistas destacados na cena contemporânea. Muitas destas entrevistas foram republicadas em livros, como os da série Encontros, da editora Azougue.
Por fim, uma palavra sobre o nome da revista. Este é inspirado no personagem Sexta-Feira do Robinson Crusoé (1719) de Daniel Defoe, recriado por Michel Tournier em seu Sexta-Feira ou os limbos do Pacífico (1972). O Sexta-Feira de Tournier é um “homem de cores”, figura da liminaridade: meio índio, meio negro, incabível em categorias fixas. Avesso à submissão, capaz de desestabilizar o projeto utópico de Robinson, este que afirma sem cessar a supremacia sociocultural do Ocidente. A inconstância do Sexta-Feira de Tournier oferece uma alegoria interessante para a antropologia, essa ciência (ou arte) dos mundos possíveis.