Estudo das descontinuidades e incongruências com que se constrói o texto plural da novela ‘Cara-de-bronze’, de Guimarães Rosa– um tecido de “nadas etéreos” que nada afirmam, mas por isso mesmorecuperam a potencialidade criadora do Verbo, característica do textopoético.
José Cardoso Pires e Guimarães Rosa são autores que dedicam especial carinho às suas personagens crianças, vistas como sensíveis e muitas vezes vítimas de violências, mas também como criativas e capazes de lidar, com uma outra linguagem, com o sofrimento, o medo e a morte. É o que pretendo mostrar nos contos “Os reis-mandados”, de José Cardoso Pires, e “Pirlimpsiquice”, “A menina de lá” e “Partida do audaz navegante”, de João Guimarães Rosa.
Tomando como ponto de partida o personagem Miguilim como homo sacer, na perspectiva de Giorgio Agamben, procura-se analisar, em Campo geral, a duplicidade dessa narrativa que apresenta o texto literário como oscilação entre testemunho/perda/falta/morte e criatividade/auto-referencialidade/vida.
Reflexão sobre a leveza irônica e a complexidade narrativa com que Guimarães Rosa corrige, em alguns contos de Primeiras estórias e de Tutaméia, leituras preconceituosas que não conseguem ver o outro na sua diferença.
O estudo focaliza as incongruências e instabilidades com que se constroem os temas da viagem e do amor na novela "Cara-de-bronze", de Urubuquaquá no Pinhém (Corpo de baile). Procura-se demonstrar que, elaborando ambigüidades e promessas de esclarecimentos que nunca chegam, o texto propõe ao leitor o mesmo jogo que envolve as personagens, cuja curiosidade é sempre aguçada em torno do poderoso Cara-de-bronze, agora próximo da morte, desinteres- sado de pragmatismos e poderes e interessado em poesia e suas ?engraçadas bobéias?.