Analisando o texto “A terceira margem do rio”, de João Guimarães Rosa e também o filme homônimo, de Nelson Pereira dos Santos, vamos discutir a noção de pai e de amigo bem como sua quebra a partir das transformações psicológicas e sociais com início em finais dos anos 1960. Verifica-se como a noção de pai, tornada líquida, cria o abandono e a deriva presentes na obra rosiana, como se exemplifica também em diversos autores literatura da América Latina.
Neste texto, pretendo trabalhar com o conto "A terceira margem do rio", no contexto do livro Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa, confrontando-o com o filme de Nelson Pereira dos Santos e a música de Milton Nascimento e Caetano Veloso, ambos com o mesmo nome. Os três trabalhos nos mostram o efeito de repetição no processo narrativo.
As adaptações de nove contos de Primeiras estórias, publicadas pela primeira vez em 1962, para os filmes A terceira margem do rio (Nelson P. Santos, 1994) e Outras estórias (Pedro Bial, 1999) constituem o tema deste estudo. Comentam-se as opções narrativas assumidas pelos cineastas para vencer o desafio imposto pela intensa elaboração textual presente na escrita de Guimarães Rosa. Considerando, por princípio, que cada obra literária ou fílmica deve ser apreciada em sua condição de produção artístico-cultural, o exame das relações entre o livro e os filmes privilegia
algumas das implicações temáticas e estéticas resultantes dessa passagem.
Tem este texto a intenção de discutir em que medida ocorre a representação dos monstros e das monstruosidades como construção discursiva no filme A Terceira Margem do Rio (1994), de Nelson Pereira dos Santos, que reúne, num só corpo, seis das Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa, Sequência, Fatalidade, A menina de lá , As margens da alegria e Os Irmãos Dagobé.