O artigo toma por objeto a articulação voz e linguagem na obra Ó (2008), de Nuno Ramos, atentando à correlação desta bipartição à polaridade cultura e natureza, conforme consta na Política, de Aristóteles. Infere-se que Ramos elabora uma descida da linguagem à voz, procedimento que pode ser entendido como a inversão do esquema traçado por Padre Antônio Vieira no sermão “Nossa senhora do ó” (1640), no qual a voz é submetida à linguagem, o corpo ao espírito. Doravante, elegeremos o conto “Meu tio o Iauaretê”, de João Guimarães Rosa, como um possível precursor da expressão “ó” por fazer o ruído animal atravessar a comunicação, embora nossa conclusão seja a de que Nuno Ramos propõe uma decida de mão única do espírito à animalidade, do lógos à phoné, o que nos permitiria vincular sua humanista teoria da separação entre cultura e natureza àquela proposta pelo filósofo Giorgio Agamben; enquanto em Rosa haveria um procedimento perspectivista, como o teorizado pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, segundo o qual a natureza seria capaz também de possuir linguagem, saber.
Em sua vasta obra, Antonio Candido defende de maneira consistente a compreensão da literatura como um fator de humanização. Essa noção parte de um pressuposto evolucionista que associa humanização a civilização e segundo o qual diferentes grupos de pessoas estariam em diferentes estágios de desenvolvimento, sendo mais civilizados aqueles que superaram um estado de simbiose com a natureza. De acordo com essa perspectiva, a literatura desempenharia um papel fundamental no processo de distanciamento entre o homem e o mundo natural. O objetivo deste ensaio é confrontar a visão de Candido a duas narrativas de Guimarães Rosa: Meu tio o iauaretê (1961) e A terceira margem do rio (1962), para problematizar a função humanizadora da literatura advogada pelo crítico.
O presente ensaio visa tecer relação entre literatura e psicanálise a partir da priorização de um enfoque do amor na novela “Buriti”, de Guimarães Rosa. Por acreditar que o tema paira não somente na esfera física hominal, como também impregna a atmosfera natural do sertão, verificar-se-á o tácito corpo de baile de uma vertente amorosa, o erotismo, entre alguns dos personagens, o que concede margem para a abordagem de instâncias psicanalíticas, a saber, alteridade e pulsões, sobretudo.
O presente ensaio visa tecer uma relação entre a literatura e a psicanálise a partir da
priorização de um enfoque do amor na novela Buriti, de Guimarães Rosa. Por acreditar que o
tema paira não somente na esfera física hominal, como impregna a atmosfera natural do
sertão, verificar-se-á o tácito “corpo de baile” de uma vertente amorosa – erotismo – entre
algumas personagens literárias por abordagens teóricas de instâncias psicanalíticas, como
alteridade e pulsão.
Este artigo analisa a relação homem-animal no conto “meu tio o Iauaretê”, de Guimarães Rosa. Entende-se aqui que a metamorfose física, que ocorre ao final da história, é parte de uma transformação maior e mais completa, que antecede a primeira e se torna visível nos hábitos, na linguagem, nos sentimentos e nos gostos do onceiro-narrador. O artigo concluiu que a metamorfose, no conto rosiano, não ocorre em um movimento brusco e inesperado, mas em um longo processo de mudança de identidade, no qual a cultura e a humanidade são rejeitadas em favor da natureza ancestral.
Vamos questionar como a Natureza se deixa-viger na poética de Alberto Caeiro e Guimarães Rosa. Manuel Antônio Castro, poeticamente, afirma que “os conceitos são o aborto das questões” (CASTRO: 2007, 04), assim sendo, apesar de Caeiro ter se firmado como poeta e Rosa, como prosador [publicou um único livro de poemas – Magma ], usaremos a denominação poética para dialogarmos com a produção textual destes dois pensadores da modernidade, não só por sermos refratários à imposição de conceitos dicotômicos e abortivos, mas também, por acreditarmos que mesmo sem grandes sagacidades literárias, é possível apreender que a prosa de Rosa é tão carregada de poesia quanto os poemas de Caeiro. Octavio Paz argumenta – “A linguagem, por inclinação natural, tende a ser ritmo. Como se obedecessem a uma misteriosa lei de gravidade, as palavras retornam à poesia espontaneamente.” (PAZ: 2006, 12) Seguramente a prosa de Rosa é um retorno constante à poesia.
Esse estudo pretende observar as perspectivas filosóficas sobre a natureza e seus aspectos culturais entre o Oriente e alguns aspectos convergentes e divergentes com o Ocidente, ao tempo em que se busca observar como se revelam esses aspectos em Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Para tal intento, vamos entender a concepção de natureza pelos orientais, como é percebida na visão filosófica e como esses aspectos se revelam na obra em questão. Com a pesquisa foi possível observar que a maneira de ver o mundo é próprio de cada indivíduo e independe do contexto geográfico, e que a obra rosiana traz um contexto que revela as contradições da natureza humana em relação a natureza externa, à qual o humano deveria proteger. Assim, percebemos que muitas pessoas priorizam o prazer mundano como ideal de felicidade, imergindo em estilos de vida perdulários e relegando os prejuízos decorrentes de suas ações.
Neste estudo analisa-se a obra Grande Sertão:veredas, de Guimarães Rosa, perscrutando as atitudes discursivas do narrador Riobaldo em relação a personagem Diadorim. Busca-se evidenciar no discurso factual do narrador em sua experiência vivida, aspectos que vislumbrem sua inquietação em virtude da paixão pelo amigo e, ao mesmo tempo, as paradoxais justificativas para esse sentimento, no intuito de defender sua masculinidade. Nesse contexto, é interessante perceber como Riobaldo projeta a imagem de Diadorim através da natureza, estabelecendo a relação entre a personagem e os elementos naturais para evidenciar a feminilidade e a beleza do amigo. Assim, ele tenta advogar em seu favor, uma vez que, ao se apaixonar pelo suposto jagunço, ele coloca sua virilidade sob suspeita.
Este artigo trata do lirismo de Guimarães Rosa que se volta para a idealização e sentimentalismo característicos dos contos de fada. Focaliza-se particularmente a personagem Rosalina, do romance "A estória de Lélio e Lina", do livro No Urubuquaquá, no Pinhém, velhinha de raras qualidades, cujas falas são impregnadas de poesia e sabedoria. O seu relacionamento com um moço vaqueiro, que, ao encontrá-la pela primeira vez, já se sente atraído pelos seus poderes incomuns, é mostrado como belíssimo caso de profunda afeição entre uma anciã e um jovem.
A produção literária de João Guimarães Rosa tem sido muito pesquisada, particularmente o Grande Sertão: Veredas, mas permanece pouco explorado como o escritor produzia aquilo que ia escrever. Este artigo descreve as notas da Boiada, resultado da viagem de Guimarães Rosa, ao sertão de Minas, em 1952.
O atual ensaio busca apontar algumas relações entre a primeira obra de Guimarães Rosa, o livro de poemas Magma, e as fontes da poesia popular, particularmente os "cantos da natureza". Junto com isso o ensaio busca lançar algumas hipóteses sobre o modo como Guimarães Rosa introduziu a natureza em sua obra através dos primeiros exemplos em Magma.