O presente trabalho se propõe a apresentar uma visão geral de Tutameia, a partir do estudo aprofundado de três de suas estórias. Começando por uma breve introdução que aponta algumas características particulares deste livro dentro da obra rosiana, o trabalho devota-se a seguir à interpretação das três estórias selecionadas. A primeira é “Antiperipleia”, estória de abertura do livro, avaliada como realização autônoma e também em sua contribuição estratégica à arquitetura do conjunto. A segunda é “O outro ou o outro”, uma das artérias mestras do livro, central para a compreensão do magistério rosiano da liberdade. A terceira é “Barra da Vaca”, que se presta a uma reflexão sobre o homem no mundo, aqui concebido como uma metáfora do poeta e sua missão criadora. Tendo em vista o princípio orgânico do todo e das partes, cada uma destas estórias contém o todo punctualmente concentrado, de modo que, lidas e transvistas, oferecem pistas reveladoras para a percepção integrada do conjunto.
Este artigo propõe o apontamento de algumas questões relativas à construção da imagem do leitor nas tramas de Guimarães Rosa. Partiremos da percepção de que o texto ficcional é composto por uma série de preorientações para sua recepção e também de que na obra de Guimarães Rosa temos como marca constitutiva a ficção de um leitor no texto. Essa ficção apresenta-se desde Sagarana até Ave, palavra e Estas estórias, livros publicados postumamente. Para entender como se dá essa ficcionalização do leitor, partiremos aqui da análise desse aspecto nos contos “Corpo fechado”, “Desenredo” e “Antiperipléia”, o primeiro de Sagarana e os dois últimos de Tutaméia.
Guimarães Rosa renova a perspectiva regionalista no Brasil ao ultrapassar o pitoresco e o
exótico regional quando apresenta procedimentos literários, os quais destacam expressividades linguísticas e temáticas com base na voz do homem do sertão. Neste artigo, num primeiro momento, são apresentadas considerações a respeito da obra de Rosa em relação ao ponto de vista regionalista brasileiro de forma a contextualizá-la; em seguida, como foco principal, intenta-se mostrar como pode estar presente no conto “Antiperipleia” um discurso ardiloso, ou persuasivo, por parte do narrador, que passa a ser sujeito do discurso ao invés de objeto de observação passivo. Para dar conta desta tarefa, foi revisitada a fortuna crítica sobre o autor, incluindo Bosi (1988), Coutinho (1991), Candido (2002) e Galvão (2000), dentre outros. Espera-se, com isso, contribuir com os estudos acerca da voz narrativa, na obra de Rosa.
Este texto apresenta primeiramente um conjunto de hipóteses teóricas sobre as relações estabelecidas entre linguagem e emoção, fundamentadas em categorias oriundas da retórica, da pragmática e da análise do discurso. Em seguida, tais hipóteses são aplicadas na análise do conto de Tutaméia acima referido, com vistas a verificar a sua operacionalidade.
Leitura de aspectos da cultura popular, presentes no processo de construção ficcional de Guimarães Rosa, o “contista de contos críticos”, que confessara: "Não preciso inventar contos, eles vêm até mim”. Pela alquimia da palavra em seu estado primitivo, a fusão do real e ficcional com o obsessiva defesa de que "a legítima literatura deve ser vida". A multiplicação do imaginário rural mineiro na narrativa rosiana, especificamente, em contos de Tutaméia e Ave, Palavra. Historia e estória no cotidiano do povo do sertão mineiro. Pelo jogo da memória narrativa popular, a construção da identidade cultural sertaneja e a recriação do mito: "No sertão, o homem é o eu que ainda não encontrou o tu: por isso ali os anjos ou o diabo ainda manuseiam a língua".
No primeiro prefácio intitulado “Aletria e hermenêutica” (ROSA, 1985, p. 7-17), o texto anedótico de Tutameia... anuncia reciclagens e atualizações semânticas na linguagem, a fim de reconstituir os finais inesperados e deflagrar o riso no decorrer do livro. Aqui, o termo micrologia – discurso frouxo, sem vigor nem colorido – busca equivalência semântica com o termo “tutameia” – tuta-e-meia, ninharia, quase nada (criado por Guimarães Rosa) – no que tange ao discurso humorístico, não para descrever os textos do escritor mineiro, mas apenas para embarcar na ideia duma antífrase carinhosa. Admitindo o humor como uma predisposição mental para se perceber o riso no momento de sua ocorrência na linguagem, que desvela um aspecto latente da realidade não apreendido pela visão habitual, pontuaremos quatro textos de Guimarães Rosa: “Aletria e hermenêutica”, “Antiperipleia”, “Como ataca a sucuri” e “– Uai, eu?”. Lendo-os nas claves do humor, mantemos contatos com excertos de Benedito Nunes (1976), Henri Bergson (1987), Vladímir Propp (1992), Caixeta (2013) e Bueno (2013). Com esse procedimento, mais do que responder acerca de como, quando, onde, quem, sobre quem ou sobre o que se capta o humor no livro mencionado, esperamos refletir e discutir a respeito do anedótico e do risível, aproximando a literatura da filosofia.
Este trabalho tem o propósito de analisar o conto “Antiperipléia”, presente em Tutaméia (Terceiras
Estórias), de João Guimarães Rosa, partindo de sua estrutura narrativa em primeira pessoa. Buscar‐se‐á
elucidar os contrastes entre as situações de enunciação e de enunciado, bem como verificar de que
maneira se articulam temática e estruturalmente no texto. O intuito é obter uma leitura mais
aprofundada e ampla do conto rosiano.