Este ensaio visa comentar, por um lado, as aproximações e as distâncias entre Guimarães Rosa, Euclides da Cunha e José de Alencar no que diz respeito à caracterização da figura do sertanejo e, por outro lado, mostrar de que forma Pedro Orósio, o protagonista da novela “O Recado do Morro”, corporiza as reflexões que Guimarães Rosa anotou sobre a natureza do sertanejo-vaqueiro, na reportagem jornalística “Pé-duro, Chapéu de couro”.
Este artigo apresenta uma reflexão sobre os vaqueiros na obra de Guimarães Rosa. Para compor este personagem freequente de sua ficção, o escritor também se veste de vaqueiro, tornando-se ele próprio um personagem. Essa operação, que aproxima linguagens e perspectivas diferentes, é, nesta análise, apresentada como uma tradução criativa, onde a cultua popular e aestética se encontram.
A partir da discussão levantada por Guimarães Rosa no texto Pé-Duro, Chapéu-de-Couro, sobre a busca dos fundamentos da nacionalidade, o artigo enfoca a reflexão desenvolvida sobre os fundamentos da identidade nacional, analisando o tempo histórico correspondente e ressaltando o empenho do autor pela valorização das raízes sertanejas na constituição da nacionalidade brasileira.
Este trabalho procura analisar como a obra de João Guimarães Rosa se relaciona com a tradição literária do Regionalismo e fratura os discursos críticos consolidados ao longo do tempo a respeito dos pressupostos estéticos que seriam característicos daquela vertente. Para tanto, são examinados dois momentos distintos da literatura do autor: de um lado, seus quatro contos iniciais, originalmente publicados entre 1929 e 1930; de outro, “Pé-duro, chapéu-de-couro”, texto de 1952 largamente ignorado pela crítica literária, mas relevante para a compreensão do universo ficcional gestado pelo autor. Contrariamente às perspectivas críticas historicamente dominantes, busca-se demonstrar como a ficção de Guimarães Rosa encontra seu ápice quando se volta para o espaço regional, dele retira sua matéria e nele situa suas tramas.
A intenção em colocar os textos em confronto obedece à proposta de desdobramento dos temas aflorados pelo Diário de guerra, de Guimarães Rosa, pela coincidência verificada, no conto de Kafka e no texto de Coetzee, a respeito das experiências científicas relativas à evolução da espécie: em Kafka, essas experiências sofrem o processo de metaforização; em A vida dos animais, são documentados e discutidos de forma irônica e sob vários pontos de vista.