Este artigo analisa a permanência de marcas do Regionalismo na prosa da literatura brasileira contemporânea. Considerado ultrapassado pela crítica literária e renegado pelos escritores, o Regionalismo entrou para a história da literatura brasileira como sinônimo de arte de baixa qualidade estética. No entanto, percebe-se que os temas regionais nunca deixaram de ser matéria para a narrativa ficcional brasileira, desde Guimarães Rosa, Erico Verissimo e Josué Guimarães, até Luiz Antonio de Assis Brasil, Antônio Torres e Milton Hatoum. Observa-se que a diferença entre o presente e o passado reside na ênfase dada pelos escritores ao contexto e ao espaço regionais, em um primeiro momento ufanistas em relação às particularidades da terra, e na contemporaneidade preocupados com a problematização dos contrastes culturais. Conclui-se que a literatura brasileira contemporânea deve muito à tradição regionalista, sem que isso implique questionamentos de qualidade estética, e que cabe à crítica investigar os temas e as formas da narrativa como chaves de interpretação para problemas históricos que perduram.
Este trabalho examina a presença do espaço regional na história da literatura brasileira como um problema de fronteiras. Da usual concepção dos limites geopolíticos que dividem territórios físicos à complexa dimensão simbólica envolvida no ato de impor limites, o trânsito entre regiões geográficas e literárias no Brasil encetou percepções que apontam não só para fronteiras entre domínios nacional e estrangeiro, como também entre realidade e ficção. Esta reflexão parte de algumas considerações sobre a capacidade da literatura de fomentar percepções de mundo e analisa brevemente a postura da crítica face ao elemento regional no texto literário. Em seguida, a partir das soluções encontradas por alguns escritores para a representação dos espaços regionais e com base em discussões teóricas sobre a noção de região, busca-se demonstrar como a literatura pode ter conformado a apreciação dos espaços regionais no Brasil.
Este ensaio analisa os contos de Sagarana, de João Guimarães Rosa, sob a perspectiva da religiosidade e da regionalidade. Pretende-se demonstrar como a religiosidade contribui para a construção das personagens e dos enredos, revelando traços de regionalidades sertanejas. Para tanto, são examinados nomes de personagens e as relações entre as tramas narrativas e as
representações de regionalidade. As observações fundamentam-se nos estudos de literatura, cultura e regionalidade.
Este ensaio tem como objetivo analisar a novela “Duelo”, de João Guimarães Rosa, integrante da obra
Sagarana, a partir da perspectiva do imaginário social e sua relação com a cultura regional. Busca-se evidenciar como a ruptura da instituição casamento afeta o comportamento social das personagens e conduz o sujeito masculino a um processo de animalização e morte fútil. A partir disso, discute-se, também, o modo como a temática abordada inscreve a produção rosiana no universal, transcendendo as fronteiras do meramente regional.
Este artigo examina as obras de João Guimarães Rosa, Mário de Andrade e João Simões Lopes Neto com o objetivo de verificar em que medida pontos de contato identificados na ficção desses autores promovem rearranjos na série literária brasileira. O estudo parte da noção de tradição literária, tal qual formulada por T. S. Eliot e Jorge Luis Borges, e, em seguida, procura mapear a ocorrência de ressonâncias das principais obras de Mário de Andrade e Simões Lopes Neto na literatura de Guimarães Rosa. Assim procedendo, pretende averiguar como a obra de Guimarães Rosa ressignifica os textos de Mário de Andrade e Simões Lopes Neto, renovando sua legibilidade e modificando sua posição no campo literário.
Programa de Pós-Graduação em Letras, Cultura e Regionalidade - Mestrado Acadêmico
Este trabalho discute a presença da regionalidade e da universalidade na obra Sagarana, de João Guimarães Rosa. Para tanto, são utilizados fundamentos teóricos oriundos dos estudos sobre imaginário social e identidade cultural, visando analisar a contribuição dos elementos imaginários e identitátios para a construção da regionalidade do universo ficcional representado, bem como para a expressão de sua pretendida universalidade. Examinam-se diversas formas de representações simbólicas valorizadas na região e como elas encerram aspectos de universalidade, vertidos em linguagem literária. Trata-se de uma discussão interdisciplinar apoiada na Literatura, na Sociologia e na Antropologia, inserida no contexto dos estudos da regionalidade.
Este trabalho pode ser dividido em dois eixos principais. Por um lado, as reflexões propostas buscam responder à necessidade de uma 'crítica da crítica' do Regionalismo literário brasileiro. Para tanto, objetiva-se examinar detalhadamente parcela representativa das análises produzidas pela crítica literária nacional a respeito da tradição literária regionalista e das obras a ela afiliadas. Com isso, almeja-se investigar o percurso do Regionalismo na história da literatura brasileira, bem como revisar os posicionamentos veiculados por uma série de estudos especializados e, por conseguinte, reavaliar determinadas linhas de força que orientaram a constituição do campo literário no Brasil. Assim, pretende-se apreender parte das condições que tornaram hegemônico um conjunto de visões de caráter restritivo em relação às literaturas regionais ou regionalistas nas letras brasileiras. Por outro lado, o estudo procura conferir especial atenção ao impacto representado pelo surgimento da ficção de João Guimarães Rosa no campo literário brasileiro, enfatizando como sua obra retoma a tradição literária regionalista e como tal característica foi apropriada pela crítica de arte. Com isso em vista, intenta-se salientar a importância do imaginário consolidado acerca do Regionalismo no Brasil para a produção de sentidos sobre a literatura rosiana ao longo de sua fortuna crítica. Busca-se evidenciar não apenas como Guimarães Rosa internaliza e retrabalha parte da série literária brasileira, mas também os efeitos decorrentes da percepção de outras vozes em sua obra e como os discursos críticos construídos a partir disso contribuíram para deslocar os escritores precedentes. Nesse sentido, examina-se como, ao mesmo tempo em que Guimarães Rosa cria seus precursores dentre os autores regionalistas e do vigor deles retira boa parte de sua própria força poética, sua literatura os ressignifica e altera seu capital literário, fomentando profundos rearranjos na tradição literária brasileira.