Este artigo propõe um estudo comparativo entre os contos A terceira margem do rio, de João Guimarães Rosa, e Nas águas do tempo, de Mia Couto. Partiremos das imagens metafóricas do rio e da água para pensarmo o tempo e a tradição. Nossa hipótese é a de que, enquanto um dos contos, através dos referidos elementos presentes na narrativa, representa a ideia de um resgate da tradição, o outro evocaria uma ruptura, impossibilitando assim uma continuidade. Perceberemos que as imagens do rio e da água tomarão cursos distintos no decorrer das narrativas. Nas águas do tempo apresenta um final no qual notamos uma continuidade do fluxo das águas, isto é, uma espécie de resgate da tradição, uma continuidade. Por outro lado, A terceira margem do rio mostrará o contrário, interrompendo o fluxo do rio e suas águas, se mostrando como uma descontinuidade, ou seja, uma ruptura com a tradição. Nosso intuito será mostrar que, enquanto um autor procura marcar ideologicamente sua posição diante do resgate da tradição como um programa de resgate e formação de uma identidade nacional, alicerçado na transmissão de experiências vividas, como é o caso de Mia Couto em Moçambique, Guimarães Rosa mostrará a perda da continuidade da tradição, que podemos tomar como a busca por uma identidade individual, fragmentada e sem uma ligação duradoura com o passado.
O artigo caracteriza a criança a partir do personagem central da novela Campo
Geral, de João Guimarães Rosa: Miguilim. Na obra a identidade infantil é construída a partir
de passagens do livro que estão associadas às particularidades do personagem. Desde a mais
tenra idade, o indivíduo tem necessidade de pertencer a determinado grupo e sofre com a
dificuldade de aceitação pela sociedade, inclusive pela própria família. A dificuldade da
participação espontânea das crianças nas práticas sociais evidencia a exclusão e
marginalização sofrida por esse grupo há tempos e ainda na contemporaneidade. A
necessidade de um novo olhar para a criança é justificada pelo sofrimento, apresentado pelo
personagem, ao ser incompreendido e ignorado. A construção identitária da criança nesta obra
do escritor Guimarães Rosa quer chamar a atenção para este grupo, que precisa ser aceito e
acreditado como seres de personalidade e identidade próprias.