Esta pesquisa pretende analisar a obra Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa como o cenário transcultural da nação, observando o discurso literário como um dos fatores da identidade nacional, sendo essa formada e transformada a partir de suas representações simbólicas. A literatura é a representação e reflexão dessa nação assim como a cultura, pois a literatura se baseia em elementos sócio-culturais para representar a nação. Guimarães Rosa tem um papel decisivo na literatura e cultura brasileira: a de transformar dilemas como o global e local, tradição e modernidade em desafios para o intelectual moderno. A partir da década de 1950, o Brasil estava passando por um momento de transformação cultural e social mediante a modernização, que implicava novos padrões de globalização. Deste modo, o resultado é o desmoronamento das culturas populares regionais. Nessa época, Guimarães Rosa publica Grande sertão: veredas (1956), onde consegue traduzir esses dilemas em arte, narrando a nação a partir do processo de transculturação, que é o enfrentamento de culturas diferentes, cujo resultado é uma fusão de elementos provenientes das culturas em confronto. Considerando a narrativa rosiana como o cenário dos conflitos culturais da nação, cabe a esta pesquisa analisar a literatura como monumento memorialístico a partir do momento que ela relata o passado por meio do presente no afã de mudar o futuro da nação. Na narrativa rosiana encontra-se, além dos conflitos culturais, os conflitos temporais que são inerentes a toda narrativa autobiográfica. Os tempos, passado e presente, se conjugam na obra para entender as transformações culturais sofridas no sertão, em que o presente recorre ao passado, ou seja, a memória, para analisar criticamente os impactos sofridos pela modernização.
Este artigo propõe, com base na Teoria da Transculturação proposta por Angel Rama, uma análise
sobre a revitalização do regionalismo. O corpus a ser analisado é o romance de João Guimarães
Rosa, Grande sertão: veredas (1956), no qual o narrador-protagonista Riobaldo, ex-jagunço, narra
sua história a um interlocutor oriundo da cidade. Nesse enredo, têm-se dois tempos narrativos:
passado e presente. No entrecruzamento desses dois tempos, percebe-se a revitalização do conceito
de regionalismo com os diálogos culturais entre o local e o global, tradição e modernidade protagozinados pelos personagens Riobaldo e seus interlocutores, Zé-Bebelo, Joca Ramiro, Hermógenes,
Diadorim, entre outros. Contudo, pretende tratar da articulação entre regional e nacional presente
nessa narrativa visando à produção de novos sentidos sobre a identidade nacional