Este trabalho se propõe a estabelecer um estudo sobre o conto A hora e a vez de Augusto Matraga, buscando discutir como Guimarães Rosa, ao recriar a relação do brasileiro com o catolicismo popular, reinventa a relação filosófica do homem com a religião. Para tanto, observa-se o desenvolvimento existencial de Nhô Augusto, de sua condição de homem violento e impetuoso, para uma nova situação de Augusto Matraga, de personalidade religiosa e resignada. Assim, este artigo detém-se em analisar como o protagonista gradativamente vai se desvinculando de códigos de honra nordestinos para incorporar uma postura filosófica universal sobre a relação entre a vida e a morte na trajetória humana. A base da reflexão deste artigo é a crença popular de que o momento da morte pode ser “a hora e a vez” da redenção de um homem, sendo abordada como o clímax da narração e de renovação da personagem. Pretende-se, portanto, verificar a trajetória de transformação existencial do protagonista, desde a circunstância de pré-morte até sua consolidação, para se compreender como a prosa de Guimarães Rosa transita de uma discussão local para uma global, quando aborda medos e anseios humanos.