Este trabalho se propõe a estabelecer um estudo sobre o conto A hora e a vez de Augusto Matraga, buscando discutir como Guimarães Rosa, ao recriar a relação do brasileiro com o catolicismo popular, reinventa a relação filosófica do homem com a religião. Para tanto, observa-se o desenvolvimento existencial de Nhô Augusto, de sua condição de homem violento e impetuoso, para uma nova situação de Augusto Matraga, de personalidade religiosa e resignada. Assim, este artigo detém-se em analisar como o protagonista gradativamente vai se desvinculando de códigos de honra nordestinos para incorporar uma postura filosófica universal sobre a relação entre a vida e a morte na trajetória humana. A base da reflexão deste artigo é a crença popular de que o momento da morte pode ser “a hora e a vez” da redenção de um homem, sendo abordada como o clímax da narração e de renovação da personagem. Pretende-se, portanto, verificar a trajetória de transformação existencial do protagonista, desde a circunstância de pré-morte até sua consolidação, para se compreender como a prosa de Guimarães Rosa transita de uma discussão local para uma global, quando aborda medos e anseios humanos.
Publicado pela primeira vez no ano de 1956, Grande sertão veredas, de João Guimarães Rosa, traz um jogo de deslizamentos capaz de revelar incertezas, mesmo daquilo que parecia ser naturalizado. A partir disso, vemos que as categorias de civilização e barbárie perdem, na obra, sua rigidez, resvalando entre o jagunço do sertão mineiro e o homem letrado do meio urbano. Dessa forma, tencionamos ler o romance de Rosa sob a chave de um projeto baseado no espaço geográfico regional, o Sertão, que se contrapõe ao projeto de modernização, pautado no desenvolvimento do meio urbano, que prometia avançar cinquenta anos de progresso em apenas cinco anos de governo. Para tanto, por meio da contribuição dos pressupostos teóricos de Antonio Candido, será possível problematizar as categorias humanas civilização e barbárie. Paralelamente, com um arcabouço teórico composto por Heloisa Starling e Silviano Santiago, almeja-se analisar o enlace entre o sertão rosiano e o projeto de modernização em andamento no Brasil no decênio de 1950. A partir de uma pesquisa de natureza bibliográfica e interpretativa, portanto, pretende-se analisar os deslizamentos e as tensões entre civilização e barbárie, modernização e jagunçagem presentes em Grande sertão veredas.