Este artigo procura discutir o conceito de dialogismo, interdiscursividade e intertextualidade na obra Bagagem da escritora brasileira Adélia Prado, na perspectiva da teoria bakhtiniana, demonstrando como nos poemas a voz poética da mulher dialoga com as diferentes vozes tanto da tradição interiorana mineira, como com as dos autores consagrados, entre eles Carlos Drummond de Andrade e Guimarães Rosa, ambos de origem mineira como a autora, num processo interdiscursivo e intertextual.
O presente estudo propõe-se a explorar a carga de afinidades entre a poesia de Adélia Prado e a obra de Guimarães Rosa Grande sertão: veredas. Os aspectos característicos da poeta, que se aproximam e se afastam daqueles do escritor, mostram uma poética em que se reconhece a presença do romance, que a própria Adélia Prado assume como matriz de inspiração de seu fazer poético. Posteriormente, a pesquisa particulariza-se em relacionar trechos do romance rosiano a alguns poemas de Poesia Reunida e A duração do dia, em que a autora, movida pela percepção híbrida do sagrado em meio ao cotidiano, faz uso da linguagem como canal de passagem do imanente para o transcendente e da relação possível entre a experiência mística e a poesia, configurando-se para a poeta Grande sertão: veredas como sua Bíblia Literária.