A “imagem”, elemento principal para a leitura dos contos “A terceira margem do rio” e “O espelho”, ambos de Guimarães Rosa; e, “O espelho” de Machado de Assis, chega-nos como marco no processo de autoconhecimento. A figura do menino que percebe a partida do pai para a “terceira margem” vincula-se à visão aterradora do sujeito narrativo, onde o trânsito entre essência e aparência é um experimento por meio de um jogo de espelhos; e o desvelamento de Jacobina pela visão de seu reflexo nos fazem buscar um resgate pelo “eu” escondido em meio a tantas máscaras sociais. Ao aceitarmos a proposição do personagem de Machado de Assis, que afirma a existência de duas almas – uma interior e outra exterior, é-nos necessário pactuar com uma dualidade de leitura entre o que é exposto e visível pelo reflexo da imagem no espelho e, o que fica recolhido, agindo na dualidade da configuração do sujeito.
A tensão existente entre duas naturezas é componente simbólico dos tipos
humanos elaborados por Machado de Assis e João Guimarães Rosa, nas narrativas
recolhidos para esta leitura. O artigo analisa a constituição dos protagonistas dos
contos machadianos, O espelho (1882) e A causa secreta (1885), em diálogo com as
formas breves de Guimarães Rosa, A terceira margem do rio e O espelho, presentes
nas Primeiras Estórias, de 1964. A problemática se instala quando os protagonistas
em necessidade vital da imagem de si pelo olhar do outro, optam por se fixarem no
entre-lugar do discurso, num plano cuja não-existência é iminente.