As cartas que Guimarães Rosa trocou com tradutores de sua obra, devidamente reunidas e organizadas por pesquisadores, têm fornecido um material inesgotável de análise e propiciado um fértil debate sobre seu projeto pessoal de escrita, bem como sobre os processos e produtos da tradução literária. Neste artigo, procuramos explorar a correspondência do escritor com três de seus tradutores visando a ressaltar questões ligadas à tradução da obra rosiana emitidas tanto pelo autor como por seus tradutores. Nas cartas a Edoardo Bizzarri, Curt Meyer-Clason e Harriet de Onís, observa-se que Guimarães Rosa estabelece um sólido vínculo de cooperação, que reverte diretamente nas obras traduzidas. Os argumentos e as reflexões trocadas entre autor e tradutores deixam entrever a concepção de escrita literária de Rosa, sua preocupação com a recepção de seus romances e contos no exterior, bem como a visão do que seus tradutores acreditam ser a tradução literária.
Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária
Esta pesquisa vislumbra um estudo da narrativa de “O burrinho pedrês” de Guimarães Rosa, sob a luz do seu projeto de escrita denominado Platform. O projeto delimita-se por meio da análise das correspondências trocadas com seus tradutores, de entrevistas e de depoimentos dados pelo escritor. Nele se reflete uma linha de pensamento que orienta e direciona seus tradutores para uma tradução mais livre (CARVALHAL, 1993), cujos aspectos essenciais seguem o mesmo caminho percorrido pelo escritor na criação de seus textos. Essas concepções são rastreadas na narrativa do burrinho, que se apresenta como pórtico da primeira obra de peso do escritor e de sua produção em prosa, configurando seu caráter inaugural, dentro de um panorama nacional que corresponde à terceira geração do Modernismo no Brasil (CANDIDO, 1989). Entre outros aspectos, são destacados os traços que o texto apresenta e que o aproxima dos contos maravilhosos (COELHO, 1987), tema também discutido por Wladimir Propp (1984); do fantástico (TODOROV, 2008); e da narrativa artesanal (BENJAMIN, 2012). Para se ratificar o caráter experimental e híbrido do conto, o estudo ainda atenta às relações macro e micro, no nível estrutural e temático entre a narrativa central e as mini-narrativas. Todos os fatores levantados contribuem para a visualização do campo analógico criado entre a vida dos homens e a dos animais e fomentam uma possível leitura da obra.