O ato de ilustrar é, também, o ato de interpretar e reescrever e, por isso, é uma forma de tornar o discurso polifônico e híbrido, dada à abertura de significação que as imagens possibilitam. E quando essas imagens se originam da leitura e do estudo do romance Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa, a intertextualidade se faz presente e as travessias entre os significados se multiplicam. Tecer uma dessas travessias é, pois, a proposta deste trabalho que tem como foco ilustrações do livro Imagens do Grande Sertão, do artista plástico mineiro Arlindo Daibert (1998). Cinco das 72 imagens da obra são aqui discutidas, considerando o conceito de intertextualidade segundo perspectiva de Bonnici (2009) e, ainda, tendo por base autores como Souza (1999; 2002), que elabora considerações sobre a crítica literária hoje; Guimarães (1998), que trata da obra de Daibert (1998); e Pereira (2009), no que se refere à ilustração. Nesse diálogo entre artes plásticas e literatura, busca-se, portanto, perceber algumas das travessias interpretativas pelas quais o sertão flui.
As referências e citações à obra Grande Sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, conduzem e compõem os textos jornalísticos da série “Sertão Grande”, publicada pelo jornal Estado de Minas em 2012. Os trechos do romance, neste trabalho, são lidos considerando-se a perspectiva de Walter Benjamin (1986, 2007) sobre os fragmentos para, assim, perceber-se como o sertão literário do romance se torna rastros que, desdobrados nas páginas do jornal impresso, possibilitam a
construção das histórias jornalísticas narradas.
Aquilo que é impresso conserva as marcas das dobras e dos desdobramentos
que nele foram feitos e que indicam algo que houve ali, que não está mais, mas
que, ainda assim, se faz presente de outra forma. No entanto, tais marcas não
são apenas o vestígio físico, percebido na superfície do papel pelo toque ou
olhar. São, além disso, as palavras que, registradas pela grafia e pela tinta,
dobram e desdobram fragmentos de Grande Sertão: veredas, de João
Guimarães Rosa, para compor os textos jornalísticos da série “Sertão Grande”,
publicada em 2012 pelo jornal Estado de Minas. Em todas as páginas, acima
dos títulos, há citações diretas retiradas do romance de Rosa que, neste
trabalho, são lidas considerando a perspectiva de Walter Benjamin (1986) sobre
os fragmentos. A leitura tecida busca perceber, ainda, como o sertão literário do
romance se converte em rastros que, desdobrados nas páginas do jornal
impresso e presentes na zona de contato entre o texto literário e jornalístico,
possibilitam a construção das histórias factuais nos limiares percorridos pela
reportagem.