Ao transpor o pórtico que nos conduz ao grande labirinto formado pelas veredas rosianas, deparamo-nos com indivíduos marcados pelo desejo, cujas dimensões sexualidade, amor, corpo são determinadas pela dinâmica sócio-cultural em que estão inseridos. Contudo, se as padronizações culturais da sexualidade, muitas vezes reduzem o desejo a formas intercambiáveis; a natureza desejante de cada indivíduo pode propor o contrário: um universo desejante quase ilimitado na sua inventividade. Por isso, o presente trabalho tem por objetivo analisar as configurações do desejo homoerótico em sua conexão com as faces de Eros, no romance Grande Sertão: Veredas de João Guimarães Rosa. Para tanto, realizou-se um percurso teórico-metodológico sustentado na tradição da Sociologia da Literatura e na hermenêutica-fenomenológica, uma vez que a problematização do desejo
homoerótico se fez a partir da fala de Riobaldo quando remetida à imagem/lembrança de Diadorim. Nesta perspectiva, trabalhou-se o status homoerótico na fábula pelo viés
performático, principalmente no que tange à performance travestida de Reinaldo/Diadorim e pela noção de estranhamento que se revela no momento em Riobaldo se percebe apaixonado pelo companheiro. A conscientização desse sentimento transita entre as personagens em silêncios e segredos, sabedoria de amor que lhes penetra o ser, mas negado por ambos a ser declarado. Essa luta permeará toda a narrativa: de um lado o medo e a culpa desse sentimento subversivo; de outro a certeza de um amor que parece aumentar com o passar do tempo. Um amor que levará Riobaldo a repensar sua existência, sua identidade, seu estar no mundo. Diadorim, por sua vez, revela as ambigüidades que descortinam o ser humano. Portanto, se a sociedade constrói discursos e scripts através dos quais nossa sexualidade é percebida e vivida, a trajetória de Riobaldo e Diadorim demonstra que, acima de estereótipos e preconceitos, o que há é apenas homem humano.