Este artigo constitui uma curta análise de “Meu tio o Iauaretê” (novela de João Guimarães Rosa publicada pela primeira vez em 1961) que busca aferir possíveis sentidos à relação que o texto de Rosa, por ser um diálogo, impõe formalmente e à relação como dispositivo gerador da individualidade do narrador-contador. Além disso, o artigo investe em uma leitura de “Meu tio o Iauaretê” enquanto performativa da escolha pela ascendência materna do personagem-narrador. Este se determinará para além do hibridismo entre ser humano (e ter um pai) e ser onça (e ter uma mãe índia e um tio jaguaretê), reivindicando a materialidade específica do corpo que se transforma enquanto (se) narra como modo de aliar-se à linhagem da mãe. Para tanto, dialogarei com pensadoras feministas contemporâneas e com conceitos da Antropologia, em uma tentativa de criação de uma leitura politicamente motivada a partir do texto literário de Rosa.
This article analyses two examples of Brazilian literature, João Guimarães
Rosa’s Grande sertão: veredas and João Antônio’s “Abraçado ao meu rancor”. Whereas
the first narrates the sertão, “Abraçado ao meu rancor” is entirely dedicated to the metropolis of São Paulo. This article aims to display a series of resemblances between the
two pieces that tend to disrupt an old but still active axiom of Brazilian social thought: the
dichotomy between the country (sertão) and the city. The analysis begins by building up
the distinction between the sertão and the city as it appears in most Brazilian literature
and literary criticism. This opposition leads to a series of other constitutive polarities,
such as development/underdevelopment, nature/culture, faith/reason. Through a reading of Rosa’s novel and Antônio’s story, this article will then juxtapose the sertão and
the city showing how oppositions that have sustained so much of the Brazilian social
thought are categories that need to be deconstructed.