Este trabalho propõe-se a uma abordagem do ciúme, sentimento presente, entre tantas outras, em duas obras da maior relevância para a literatura nacional: São Bernardo e Grande Sertão: Veredas. Outros aspectos que aproximam os dois romances – a exemplo da violência, da morte feminina, da narração autodiegética e masculina – já foram comentados por muitos estudiosos de Ramos e Rosa, contudo, esse sentimento tão importante na construção de ambas as narrativas não recebeu ainda a primazia em uma análise de aproximação. Com isso, nosso intento é estabelecer essa afinidade temática não apenas elencando pontos de semelhanças, mas também comentando em que se distanciam as concepções de ciúmes tratadas nas duas obras – e em que essas questões contribuem para uma melhor compreensão geral dos dois livros. Para isso, analisaremos as relações dos protagonistas Paulo Honório e Riobaldo com as mulheres que marcaram suas vidas – sobretudo, mas não apenas, Madalena e Maria Deodorina (respectivamente). Comentaremos, neste esforço, as diferentes “modalidades” de ciúmes mencionadas nas narrativas em questão, a fim de perceber como essa temática toca também outros aspectos relevantes em ambos os casos. Para isso, noções de psicologia, como os conceitos de ciúme de Freud;
ou de história, como as noções de patriarcalismo de Mary Del Priore, são incontornáveis. Ademais, outros estudiosos dos romances em questão, como Jaime Ginzburg, Antonio Candido, Roberto Schwarz e Luiz Costa Lima, também nos auxiliarão nesta trajetória. Nosso objetivo é, com tal análise, trazer nossa contribuição à leitura dos romances de Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, propondo um novo olhar de aproximação sobre o ciúme na construção de ambos