Em nossa Dissertação de Mestrado, estudaremos, sobretudo, Meu tio o iauaretê, de Estas estórias, e, ainda, O espelho, de Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa. Estes são os objetivos gerais do presente trabalho. Em relação ao primeiro relato (uma narrativa mais longa), temos como propósito específico efetuar a sua análise por meio da teoria do gênero fantástico desenvolvida por Tzvetan Todorov, a qual leva em conta os gêneros estranho e maravilhoso. Em relação ao segundo (uma narrativa bem menos extensa), o nosso intento específico é a sua abordagem a partir do maravilhoso. Também lançaremos mão de conceitos da psicologia analítica de Carl Gustav Jung, na leitura de ambos os textos: noções como inconsciente coletivo, arquétipo, anima, animus, alma do mato (para Meu tio o iauaretê), si-mesmo ou self, persona e sombra (para O espelho). Não pretendemos, todavia, transformar os personagens das duas obras em casos clínicos, mas mostrar como aspectos da teorização junguiana, tal como ocorre com a de Freud, servem para iluminar a produção literária de um modo geral. Dois detalhes que funcionam como fatores de ligação das duas narrativas de Rosa são as presenças da figura da onça e do espelho nas páginas de ambas.
Este trabalho propõe-se a uma abordagem do ciúme, sentimento presente, entre tantas outras, em duas obras da maior relevância para a literatura nacional: São Bernardo e Grande Sertão: Veredas. Outros aspectos que aproximam os dois romances – a exemplo da violência, da morte feminina, da narração autodiegética e masculina – já foram comentados por muitos estudiosos de Ramos e Rosa, contudo, esse sentimento tão importante na construção de ambas as narrativas não recebeu ainda a primazia em uma análise de aproximação. Com isso, nosso intento é estabelecer essa afinidade temática não apenas elencando pontos de semelhanças, mas também comentando em que se distanciam as concepções de ciúmes tratadas nas duas obras – e em que essas questões contribuem para uma melhor compreensão geral dos dois livros. Para isso, analisaremos as relações dos protagonistas Paulo Honório e Riobaldo com as mulheres que marcaram suas vidas – sobretudo, mas não apenas, Madalena e Maria Deodorina (respectivamente). Comentaremos, neste esforço, as diferentes “modalidades” de ciúmes mencionadas nas narrativas em questão, a fim de perceber como essa temática toca também outros aspectos relevantes em ambos os casos. Para isso, noções de psicologia, como os conceitos de ciúme de Freud;
ou de história, como as noções de patriarcalismo de Mary Del Priore, são incontornáveis. Ademais, outros estudiosos dos romances em questão, como Jaime Ginzburg, Antonio Candido, Roberto Schwarz e Luiz Costa Lima, também nos auxiliarão nesta trajetória. Nosso objetivo é, com tal análise, trazer nossa contribuição à leitura dos romances de Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, propondo um novo olhar de aproximação sobre o ciúme na construção de ambos
Este trabalho apresenta uma análise de Grande sertão: veredas, publicado em 1956, de João
Guimarães Rosa, e invoca, como principal fundamento, a antropofagia de Oswald de Andrade.
O romance, suas personagens e o que juntos realizam, imbricados na narrativa, são entendidos
como titulares da natureza de um Outro. Alteridades que, do lugar de margem em que estão,
perturbam ideias estabelecidas e igualmente o fazem com a materialização destas em um
rosto/agente soberano. Importunam, mas também avançam: deglutem, ruminam e expelem,
transformando o padrão em uma síntese específica, original, insólita. Nesta ordem, este estudo
argumenta que são antropofágicas: a trama central, as personagens principais e a faceta política
destas duas. Do ritual canibal dos nativos de Pindorama, depois como metáfora do pensamento
filosófico oswaldiano, até alcançar os cafundós onde vivem Riobaldo, Diadorim, Hermógenes,
Deus e o diabo, a selvageria revolucionária da antropofagia está, também, conforme argumenta
esta dissertação, no fundo do sertão de Rosa. De lá, devora tudo, contando com as contribuições
de Bolívar Echeverría, György Lukács, Jacques Rancière e Sigmund Freud.
A proposta desta dissertação é estudar a rememoração na obra Primeiras estórias (1962), de
João Guimarães Rosa, tendo, como suporte teórico, a teoria da reminiscência de Platão. Para o
filósofo, a alma é imortal, pois sempre renasce em diferentes corpos. E quando uma pessoa
aprende algo ocorre uma rememoração, porque há apenas a recordação de um saber já
adquirido pela alma no mundo das ideias. Pretende-se, com base nessa teoria de Platão,
compreender os acontecimentos considerados misteriosos nas estórias rosianas, por se
distanciarem da lógica tradicional, e os comportamentos enigmáticos dos personagens. Por
serem muitas as narrativas que compõem o livro Primeiras estórias, restringiu-se o corpus a
sete contos: “A terceira margem do rio”, “A menina de lá”, “Sorôco, sua mãe, sua filha”,
“Nenhum, nenhuma”, “Um moço muito branco”, “As margens da alegria” e “Os cimos”.
Propõe-se abordar a infância através de algumas obras de João Guimarães Rosa. Guirigó, a principal personagem infantil analisada, está presente em seu romance aclamado pela crítica literária, intitulado Grande sertão: veredas, lançado em 1956. Completará essa análise um estudo comparativo entre Guirigó e outros jovens personagens da obra do autor, com a finalidade de traçar, a partir de aproximações e distanciamentos, a construção do garoto Guirigó e elencar pontos de semelhanças, mas também comentando em que se distanciam e como isso constitui, de forma desigual, a infância em algumas das obras rosianas. Apesar de uma extensa fortuna crítica sobre vida e obra de João Guimarães Rosa, a personagem infante ainda é pouco explorada pela crítica literária. Portanto, propõe-se um estudo inaugural sobre a personagem Guirigó, a fim de aprofundar a pesquisa sobre a sua constituição como fruto do meio sertanejo, marcado pela miséria e pela violência, considerando, além de seus aspectos físicos, psicológicos e sociais, sua origem negra. A análise se fundamentará em conceitos de infância e sua função social, com Walter Benjamin; de violência, com Jaime Ginzburg; sobre o papel do menino, Vânia Resende. Ademais, outros estudiosos da obra de João Guimarães Rosa, entre os quais Antonio Candido, Walnice Galvão, Willi Bolle e Leonardo Arroyo, permitirão tal perspectiva aprofundada sobre a obra. Objetiva-se, assim, contribuir com os estudos sobre Grande sertão: veredas, propondo um olhar comparativo acerca das crianças rosianas.
Na obra de Guimarães Rosa, encontramos uma linguagem flutuante, em que os signos são intercambiáveis e tudo é e não é, ao mesmo tempo.Partindo desse princípio, os elementos da narrativa não podem ser lidos como elementos estanques, é preciso atentar para as novas e inesperadas dimensões que se abrem a cada página. Entre essas, a apresentação do amor é analisada como forma “misturada”, em que cabem todas as mulheres amadas. Para tanto, o autor resgata o feminino como valor positivo e o próprio amor, como “signo e sentimento” que não pode ser limitado pela desordem da realidade empírica, mas encontra seu espaço na linguagem onde tudo é possível. A leitura da relação amorosa entre Riobaldo e Diadorim é uma possibilidade de descortinar a leitura do“mundo movente” e o questionamento do homem e da própria narrativa.
A presente pesquisa investiga os contos Sorôco, sua mãe, sua filha e A terceira margem do rio , de Guimarães Rosa, tendo como foco principal o papel do leitor na recepção desses textos literários. Com esse objetivo, constituiu-se uma metodologia teórica a partir dos estudos de Wolfgang Iser e sua teoria acerca do leitor implícito, de Hans Robert Jauss e sua hermenêutica baseada no jogo de perguntas e respostas e de Umberto Eco e suas considerações sobre os não-ditos textuais. A análise desses dois contos do livro Primeiras Estórias indaga como o leitor de Guimarães Rosa se confronta com textos complexos e enigmáticos, que tratam de aspectos como loucura e falta de comunicação, e se aproxima nessas margens , em que o trabalho de preenchimento dos vazios textuais torna-se tarefa deveras complicada ao leitor implícito. Percebe-se, pelas investigações, que o leitor de Rosa oscila entre contentar-se com o caminho seguido pelas personagens em seus desfechos e sentir-se frustrado com os resultados da leitura. A ideia defendida por Jauss de que no texto literário o leitor participa de um jogo de perguntas e resposta fica clara na análise desses contos, uma vez que muitos são os questionamentos feitos por esse leitor implícito, cujas respostas nem sempre aparecem de forma clara. É esse leitor questionador de Guimarães Rosa que este trabalho contempla.
A narrativa curta, também denominada conto, no contexto do modernismo tardio brasileiro, é o objeto de estudo deste trabalho. O conto possui uma caracterização própria, diferenciando-se de outras narrativas literárias naquilo que a teoria comumente denomina "extensão" ou, segundo Carlos Reis e Ana C. Lopes, uma "modalidade de variação temporal da narrativa". Todos os elementos que marcam a diversidade deste tipo textual em relação às demais formas narrativas, tais como: brevidade, simplicidade constitutiva, linearidade, concentração de enredo, concentração cronotópica, densidade dramática, singularidade temática, intensidade, univocidade e univalência, estão, de certa maneira, ligados à extensão. A análise e a interpretação dos componentes tempo e espaço na formação do cronótopo são realizadas, nesta pesquisa, com vistas ao reconhecimento de um pathos que, acredita-se, fornece densidade à brevidade do conto moderno. As fontes de pesquisa para análise e interpretação dos contos centraram-se em estudiosos especializados em teoria e crítica literárias que examinaram as categorias temporais e espaciais e aqueles que consideraram o cronótopo no contexto da modernidade, no século XX. Além destes, filósofos e pensadores voltados para o estudo do tempo e do espaço, considerando as narrativas como foco.