O presente estudo reelabora uma análise feita há alguns anos sobre o conto "Desenredo" de Guimarães Rosa (Tutaméia, 1967). Na ocasião, procedemos a uma leitura estritamente ligada ao campo da teoria literária, que agora desenvolvemos com o acréscimo de algumas reflexões provenientes da psicanálise e que se baseiam especifi camente em dois estudos de Freud: Os Chistes e sua relação com o Inconsciente (1905) e Escritores criativos e devaneio (1908).
The article proposes that at the core of Brazilian literature pulsates an aural writing elaborated by authors who “write by ear.” To prove this hypotheses, I relate “writing by ear” to two procedures found in Clarice Lispector, Machado de Assis, and Guimarães Rosa’s works: 1) a multiplicity of authorial voices—where the author is no longer the one who writes but the one who listens; and 2) a validation of improvisation (effective or pretended) as a method of literary composition. If the above description is valid, I propose that “writing by ear” is a concept potentially useful to understanding literature produced in a culture where orality and musicality predominate.
O objetivo desse artigo é estudar a expressão do desejo em Grande Sertão: Veredas, percebendo como o escritor nomeia o amor e o descreve em analogia com o espaço do sertão. Para isso, analisaremos dois episódios: o encontro com a "prostitutriz" Nhorinhá, em um lugarejo chamado Aroerinha, e a descoberta do desejo por Diadorim, na Guararavacã do Guaicuí. O texto encerra-se com uma análise da imagem-enigma: "O amor? Pássaro que põe ovos de ferro", com o intuito de compreender o processo de elaboração metafórica do tema amoroso.
Comentário sobre a obra crítica de João Adolfo Hansen, incluindo transcricão de entrevista integral realizada com o autor sobre o romance Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa.
Este texto propõe que no coração da literatura brasileira encontra-se o pulsar de uma escrita auditiva, elaborada por autores que “escrevem de ouvido”. O objetivo é conceituar o termo “escrita de ouvido”, e descrever a forma que assume na prosa de ficção, em especial no romance. Machado de Assis, Clarice Lispector e Guimarães Rosa são os escritores centrais dessa pesquisa, que também se aplica a outros escritores-chave como Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Graciliano Ramos. Pensa-se pois o ouvido como um terceiro termo para além da dicotomia entre a fala e a escrita, o romance, como um espaço de escuta, e a autoria, como um lugar de recepção mais do que de producão. Busca-se assim contribuir para uma poética da ressonância e uma história aural da literatura escrita em português com acentos multilíngues.