Perceber a concepção de literatura e do papel do escritor para Guimarães Rosa, por meio das correspondências ao tio Vicente Guimarães e ao tradutor da obra de Rosa para o alemão, Curt Meyer-Clason. Avesso a questões partidárias, o engajamento de Guimarães Rosa na questão política inerente à literatura torna-se evidente nessas correspondências, com a defesa do dever do artista e da fuga do óbvio.
Além de escritor, o autor brasileiro João Guimarães Rosa foi diplomata. Ele trabalhou em Hamburgo (Alemanha), entre 1938 e 1942. Ele escreveu um diário entre 1939 e 1941. O diário está na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e integra a Coleção Henriqueta Lisboa. Nele, há a rotina diplomática na Segunda Guerra Mundial: viagens, reuniões, filmes, teatro, bombas, judias chorando no consulado.
Analisar o tratamento conferido às questões políticas na literatura de João Guimarães Rosa em paralelo ao cargo de diplomata que também exerceu. Como diplomata e escritor, Guimarães Rosa não foi homem de posições políticas explícitas. Por muito tempo, predominaram análises metafísicas e esotéricas das obras literárias de Rosa, a despeito das contradições políticas e sociais brasileiras também nelas presentes. A forma apaziguadora de conflitos, tipicamente diplomática, trabalhada literariamente, atendeu à formação de uma crítica baseada no apolítico. De certa forma, engajamento e hermetismo literário não seriam conceitos opostos, mas complementares em Guimarães Rosa. Os discursos diplomático e literário se assemelham por estarem repletos de disfarce, dissimulação e negociações. Guimarães Rosa era extremamente cético em relação às formas da política tradicional, mas o aspecto diplomático pode contribuir para ampliar a compreensão da visão política que permeia a obra do escritor.