Este trabalho desenvolve algumas reflexões sobre a obra Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, a partir de uma leitura da experiência existencial e poética da personagem Riobaldo, simultaneamente à constituição do mundo que habita, o sertão - coalescente realização denominada na narrativa como travessia. Da força agraciadora que a propicia - reconhecida como a personagem Diadorim - ao consumar de sua manifestação como linguagem, poeticamente, se revela o percurso ontológico de dimensionamento humano, cujo esforço hermenêutico, compreendido como diálogo criativo com a obra, reverbera sua dinâmica constitutiva, redundando em travessia também para o leitor.
Nosso trabalho demonstra que os contos de Sagarana foram estruturados a partir de formas gerais e primitivas de manifestação literária, como a legenda, o caso, o conto, a saga, o mito e a fábula. Apesar de estarem circunscritos a um espaço rural brasileiro e situados num tempo moderno, atual, estas sagas ultrapassam seus limites espacias e temporais e atingem a universalidade das imortais narrativas épicas dos tempos de Homero e de Virgílio. Em Sagarana, a unidade narrativa resulta da associação do motivo da viagem ao tema da aprendizagem, que se repetem insistentemente em todos os contos. Esta unidade harmoniza os níveis lingüísticos, estruturais e temáticos das narrativas e se apóiam numa ideologia ética, filosófica e religiosa.
Esta tese propõe uma leitura de Tutameia — Terceiras Estórias, último livro publicado em vida por João Guimarães Rosa (1967). A hipótese inicial é que a composição de Tutameia seja orientada pela astúcia poética. Nesse sentido, propõe um diálogo entre as Terceiras Estórias e os mitos gregos da astúcia – Métis, Atena, Hefesto, Hermes e Ulisses –, à luz do pensamento de Heidegger. Trata-se de uma obra ainda pouco estudada pela crítica, que a considera demasiadamente hermética. Neste livro, o autor se vale de todos os recursos disponíveis, da retórica à tipografia, para capturar em suas malhas o leitor e convocá-lo ao trabalho, árduo e prazeroso, de lê-lo, letra por letra. Tutameia coloca questões fundamentais para Guimarães Rosa, cuja obra transita na ambiguidade das regiões fronteiriças. Este estudo pretende vislumbrar na leitura deste livro o sentido da astúcia na travessia humana: a valorização de uma sabedoria que supere a megera cartesiana, que reaproxime a gente de uma essência esquecida. Astúcia poética é saber que tudo é e não é. O exercício hermenêutico de leitura do livro leva a uma nova leitura do mundo, sem verdades acabadas nem soluções definitivas: a busca não tem fim, pois sempre coloca uma nova questão. A astúcia deste livro está em justamente desvelar velando, iluminar sombreando, explicar confundindo. A cada nova investida, novos pontos são levantados, tornando mais complexa a visão que ele articula.
Faculdade de Letras, Departamento de Letras Vernáculas
ravessias: Ritos iniciáticos no Sertão rosiano apresenta uma interpretação de Grande Sertão: Veredas, obra original e mitopoética de João Guimarães Rosa, em que Riobaldo, personagem-narrador, percorre o Sertão das Gerais, não apenas como local físico e palpável, mas também como Centro do Mundo, local da cosmogonia, onde esta última pode ser continuamente reiterada. A reiteração periódica da cosmogonia do Sertão das Gerais é realizada por Riobaldo nos ritos de passagem que deve atravessar, sempre com Diadorim, seu Mestre iniciado, a mostrar-lhe o caminho. O roteiro dos ritos de passagem e das provas iniciáticas a que Riobaldo deve se submeter é estudado com o auxílio das obras de Mircea Eliade e Eleazar Meletinsky, dentre outros autores, sendo as funções específicas de cada tipo de rito examinadas de forma a elucidar o caráter iniciático da obra rosiana. Os tons mitopoético e épico da obra também são motivo de cuidadoso exame, já que os ritos de passagem estão intimamente ligados ao gênero épico tradicional e ao caráter épico específico ao texto rosiano. O destino interligado dos personagens Riobaldo e Diadorim também recebe a devida atenção, pois remete ao fatum e à ...... presente nos épicos da Antiguidade Clássica.
O presente trabalho apresenta como proposta uma reflexão acerca das manifestações da temporalidade poética no tédio, na memória, no esquecimento, na impermanência e na finitude em produções literárias, com maior relevo para diálogos com textos de Guimarães Rosa e de Fernando Pessoa. Nossa investigação econtra eco em escritos de grande relevância para o pensamento, como as reflexões engendradas por Heidegger, Octavio Paz e Bachelard que, de forma direta ou tangencial, tematizam o tempo como questão inquietante. Em busca do tempo poético, ou seja, de um tempo que foge ao encarceramento às engrenagens de um relógio, ou a qualquer outro meditor temporal, um tempo que não se rende à triádica divisão clássica - passado presente e futuro - intentamos corporificar nossa hipótese de pesquisa com diálogos que perfazem a travessia por outros campos do conhecimento que não se limitam à literatura, mas que podem ser pensados sob o olhar da literatura, a saber, a filosofia, a física e a mística oriental. Ao pensar o tempo poético, ainda objetivamos refletir de que maneira essa temporalidade pode se configurar como uma medida para nossa prática de ensinantes de literatura.
Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza. Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia
Ao investigar a necessidade do maravilhamento para todo e qualquer pensamento humano, constatam-se, nas multiformes características da intelectualidade, os diferentes modos nos quais a racionalidade humana se sustenta e se expressa. Se o desejo em conhecer é imprescindível, as perplexidades e os descaminhos da razão são inevitáveis. Deste modo, diante da inexpressabilidade da substância e dos limites da causalidade, estudam-se as maneiras pelas quais a contemplação no mundo antigo e as considerações a respeito da noção de mundo no pensamento pós-kantiano podem ser entrelaçadas para uma abordagem fenomenológica do espaço. Mostra-se imperativo um estudo a respeito do mundo da vida contemporâneo para uma melhor compreensão do objeto material escolhido: as ideias de espaço; tal resultado decorre da escolha de uma abordagem fenomenológica como um objeto formal de estudo. Ao estudar os modos pelos quais as noções de espaço se interrelacionam na contemporaneidade, infere-se que estas interagem em contextos específicos com o Vero, o Belo e o Bom. Fundamenta-se tal dedução em um estudo histórico de algumas considerações sobre o espaço, inicialmente em uma pesquisa sobre a recepção e a crítica do postulado das paralelas, e posteriormente por uma recapitulação de algumas importantes considerações intelectuais sobre o espaço ao longo do tempo. Mostra-se, portanto, que para se compreender o espaço e a espacialidade, uma avaliação sobre o mundo da vida é imprescindível. Opta-se por um estudo da contemporaneidade, sobretudo ao selecionar algumas telas cubistas, algumas obras de M.C. Escher, alguns contos de Jorge Luis Borges e o Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa como exemplos paradigmáticos nos quais distintas considerações sobre o espaço são combinadas no cenário hodierno. Diante das inúmeras formas de compreensão do espaço, desvela-se a perplexidade da racionalidade humana; perante o inexorável desejo em apreender, conceber e expressar a realidade, evidencia-se o maravilhamento. Entre metáforas e metonímias, maravilhamento e perplexidades, inventa-se o espaço nos contextos particulares de expressão da intelectualidade humana.
Este trabalho propõe-se a interpretar Grande Sertão: Veredas - na perspectiva do discurso narrativo - como um jogo de forças antagônicas. A dialética do bem e do mal mostra características que o romance apresenta e como se utiliza de elementos poéticos, míticos, religiosos e narrativos para criar este mundo amplo e particular, onde forças contraditórias formam um todo homogêneo. O título da Tese dá a justa medida da imaginação poética que o universo rosiano demanda, pois "tudo é e não é". Dessa forma o trabalho se divide em cinco partes: o narrador, inspirações do narrador, o mal encarnado, o mal e o pacto e os adversários do mal. Capítulos que procuram demonstrar como esta dialética de bem e mal perpassa o romance sob vários aspectos, indicando que o imbricamento entre as forças maléficas e divinas constituem o caminho rumo à sabedoria: travessia. Nossa hipótese postula que nos vários planos estruturais da obra coexistem oposições, conflitos e reversibilidade entre as potências do bem e do mal. E tais oposições determinam que uma perspectiva sábia está no conhecimento de que estas oposições devem coexistir e auxiliar na caminhada das veredas da existência.
Faculdade de Letras, Departamento de Letras Neolatinas
A pesquisa presente realça as variações das traduções franesas, de 1910 até 2004, de oito contos dos escritores brasileiros Machado de Assis e Guimarães Rosa. A partir de um corpus de oito contos (quatro de cada autor), confrontamos os trabalhos de doze tradutores, de acordo com a metodologia de Berman. Definimos, primeiramente, os problemas encontrados na tradução e na retradução, expondo suas principais teorias na França, do século XVI até os dias de hoje. Em seguida, estudamos as relações literárias França-Brasil e a recepção das obras brasileiras na França, assim como o "horizonte das traduções". Na segunda parte, apresentamos os "sistematismos" da escrita de Machado (a distância para com o realismo e a presença do narrador no texto) e os "intraduzíveis" de Guimarães Rosa (o particular e o universal bem como a língua recriada), mostrando como os tradutores resolveram esses "particularismos". Depois de ter apresentado os primeiros tradutores, que apresentam, geralmente, uma tendência "etnocêntrica" e estão sempre prontos para "naturalizar" a obra, e, em seguida os retradutores, com uma tendência "estrangeirizante" e "literalizante", investigamos, a partir dos textos, os seus "projetos de tradução", suas "éticas", suas "posições tradutivas" e suas "bibliotecas imaginárias". Enfim, comparamos nos dois autores a maneira como os aforismos, as expressões do popular e da loucura são traduzidos. Este trabalho mostra a variedade de tons e sentidos dados a um texto original, na medida em que cada tradutor materializa diferentes sentidos possíveis da obra faz com que ela tenda a ser retraduzida.
O sertão e sua desmedida é o tema do presente trabalho. Nele, buscamos nos aproximar do significado insólito, inabitual, do sertão no romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Nossa leitura visa, portanto, a partir da narrativa poética e metafísica do personagem e narrador Riobaldo, sentir e pensar o sertão enquanto uma realidade que extrapola o espaço físico e geográfico, que é sem fim, que é sempre outro sendo o mesmo, ou, como diria o narrador, que "está em toda parte". Para tanto, partimos de uma reflexão em torno da proximidade existente na obra entre poesia e pensamento. Na fala de Riobaldo, repercute um tom poético e pensante que, guiado pela intuição, coloca o "lugar sertão" a todo instante em suspenso, dando origem, assim, ao caráter insólito do mesmo. Entendemos, nesse sentido, o sertão como uma experiência que, antes de tudo, não se mede e que redimensiona a existência, alargando suas bordas, suas margens, ao permitir que ela seja, em sua finitude, infinita a cada instante; ou que o sertão, a princípio, relacionado a um determinado lugar geográfico, possa ser "dentro da gente", isto é, possibilite a travessia para o infinito, libertando, assim, o homem do peso da temporalidade, como desejava Guimarães Rosa.
Faculdade de Letras / Departamento de Ciência da Literatura
Este trabalho consiste numa reflexão crítica a partir da leitura de alguns contos de Edgar Allan Poe e João Guimarães Rosa, privileg iando os aspectos sonoros e visuais desenvolvidos por meio de recursos tipográficos e de impressão. Procura-se mostrar que os dois autores, ao explorar de forma maximizada as possibilidades de sua arte - eminentemente verbal e, portanto, simbólica - rompem com seus limites, pois trazem à tona os níveis indiciais e icônicos virtuais na linguagem verbal, e, desse modo, situam seus textos numa área limítrofe, onde diversas artes se amalgamam e interagem complexamente. Para esta reflexão contribuiu o estudo das concepções cosmogônicas de Poe e Rosa. Foi nossa preocupação apontar como, intimamente ligadas à sua concepção de linguagem, elas se expressam em seus textos, principalmente na forma e no método de escritura. Numa perspectiva intersemiótica/interdisciplinar, foram de grande valia, nesta abordagem, o conceitual teórico haurido da Semiótica de Charles Sanders Peirce e preceitos da mística judaica.
Esta Dissertação tem por objetivo a análise da novela "Uma estória de amor (Festa de Manuelzão)" a partir da trajetória de seu protagonista, Manuelzão. Destacamos, assim, as escolhas e renúncias da personagem em prol do seguinte projeto: ter nas mãos o controle sobre a própria existência, modificando a realidade de infante pobre em estabilidade sócio-econômica e reconhecimento pelo trabalho e, conseqüentemente, pelo nome. No primeiro capítulo, "Corpo de Baile: da imprensa à universidade", apresentamos a recepção das novelas rosianas pela imprensa, no ano de seu lançamento, 1956, bem como os principais estudos realizados acerca de "Uma estória de amor", sobretudo na década de noventa. Em "O traçar de uma rota", segundo capítulo, tratamos da memória da infância de Manuelzão e sua importância na decisão do protagonista de tomar as rédeas do próprio destino, almejando tornar-se bem sucedido e reconhecido não só na Samarra mas ainda nos arredores. Para alcançar tal objetivo, Manuelzão trabalha árdua e ininterruptamente as terras de Federico Freyre e lhes destina seus esforços, na mesma intensidade de dedicação a que se propusera até então.
A tese tem por objetivo estudar Corpo de baile, de João Guimarães Rosa, como uma
unidade, o que é apontado já desde o título da obra, em acordo com o projeto original do autor
para o livro. Para tal, utilizaremos a primeira edição de Corpo de baile, de 1956, tendo em
vista sua gradativa descaracterização, a partir da terceira edição, quando a obra é tripartida e
cada volume recebe um novo título, a saber, Manuelzão e Miguilim (1964), No Urubuquaquá,
no Pinhém (1965) e Noites do sertão (1965). A coexistência de dois índices, nomenclaturas
diversas para os textos (novelas, romances e Gerais, contos e parábases), epígrafes comuns e
específicas, referências e citações, migração de temas e personagens, inserção de estórias,
representação de cantigas e danças, com o uso, muitas vezes, de recursos do teatro e da
poesia, fazem de Corpo de baile uma síntese celebrativa da arte e da vida, considerando,
dentre outros aspectos, seu caráter cíclico e repetitivo. Assim, dedicamos o primeiro capítulo
da tese à análise da organização da obra, para, na sequência, examinarmos uma a uma as sete
narrativas, segundo a disposição original, perfazendo, deste modo, o percurso sugerido pelo
autor.
Faculdade de Letras, Departamento de Ciência da Literatura
A presente tese tem por objetivo pesquisar as noções de memória e esquecimento no romance Grande Sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, tomando como principal orientação a fala de Riobaldo, seu narrador. Partindo das articulações entre a memória coletiva, a memória individual e a narrativa, encontra-se uma concepção de memória, no romance, como uma terceira instância, estabelecida sempre como negatividade, pautada nas concepções de inconsciente e real, de Freud e Lacan; e na concepção de um tempo-de-agora, ou tempo entrecruzado de Walter Benjamin. A tensão entre a travessia e a melancolia insere-se tanto nos aspectos históricos e coletivos da rememoração - no testemunho do narrador sobre a cidade que vem acabar com o sertão - como nos entraves para atravessar o trauma relacionado a Diadorim. O processo de rememoração de Riobaldo é concebido como composto de temporalidades que se sobrepõem, como uma montagem não-linear e não-objetiva, constituida a partir dos erros e fracassos da memória, que apontam para sua dimensão de fantasma, de ficção e de esquecimento.
Este trabalho partiu da observação de uma situação freqüente na obra de Guimarães Rosa, na qual o sujeito e coletividade se misturam, de forma a não ser possível dissociá-los. Buscou-se articular os paradoxos entre o arcaico e o moderno, a oralidade e a escrita presentes na obra rosiana, enquanto reflexão sobre uma realidade do Brasil dos anos 50.
Physis e Lógos: Riobaldo e a travessia das águas mitopoéticas no Grande Sertão tem como objetivo investigar o comportamento das águas emGrande sertão: veredas através do estudo da narrativa em forma de diálogo, travado pelo narrador e protagonista Riobaldo. No título da dissertação confluem os principais conceitos trabalhados, ressaltando a importância da travessia e do rio – esse contido no nome do personagem – sob a visão da physis e do lógos, palavras que se aproximam e desvelam a via de acesso para se interpretar o sertão mitopoético e seus afluentes. Dividida em três capítulos, cada um com três seções, a dissertação discorre primeiramente sobre a natureza do próprio sertão para focalizar as imagens dos principais rios da obra: o São Francisco, o de-Janeiro, o Urucuia e o misterioso “rio do pacto”, que surge no momento em que Riobaldo invocao diabo. Ao dissertar sobre as transformações da água, o último capítulo se dedica a interpretar o conceito de travessia no romance de Guimarães Rosa. Ao final, na última seção,uma recapitulação de todos os fundamentos propostosnos demais capítulos permitesubstanciar a reflexão sobre o principal rio da obra: o Rio baldo e a potência transformadora do seu narrar.
A pesquisa investiga as relações entre leitor e obra e as operações mentais que ocorrem durante a leitura. Como essas operações contribuem para a construção de sentidos é o que nos move. Nosso objeto de estudo é o livro Tutameia, de João Guimarães Rosa. Na interpretação das 40 estórias procuramos determinar o que constitui o chamado “universo rosiano”. Esta pesquisa tem por objetivo, através da apresentação e análise de Tutameia, demonstrar que a construção de sentidos e as estratégias de diálogo metaficcional são operações concomitantes. Ambas concorrem para a ampliação do universo habitual de leitura e compreensão. Pretendemos mostrar de que maneira o livro convida o leitor a abandonar os “hábitos estadados” de leitura de modo a dispor-se ao apelo e desafio da obra. Exibindo uma estrutura de alta complexidade, com superposição de planos semânticos e mecanismos internos capazes de lhe dar ritmo e movimento, Tutameia exorta o leitor a abandonar a preguiça mental escondida por trás da “palavra difícil”: “Não se temam as difíceis palavras”. (ROSA, 2009: 216). Na investigação do ser da obra rosiana usaremos, entre outras, as teorias “O jogo como o modo de ser da obra de arte”, de Hans-Georg Gadamer, a “Teoria do efeito estético”, de Wolfgang Iser, a poética da ironia, de Ronaldes de Melo e Souza, e o amplo estudo realizado pela professora Maria Lucia Guimarães de Faria que constituiu sua tese de doutorado, intitulada Aletria e hermenêutica nas estórias rosianas.
Partindo do estudo da adaptação cinematográfica feita por Roberto Santos do conto "A hora e vez de Augusto Matraga", de Guimarães Rosa, este estudo pretende apreender e tornar inteligíveis noções profundas que permeiam a dinâmica existente entre os meios literário e fílmico. Para tanto, serão abordados aspectos referentes às relações entre cinema e mundo, tais como sob que condições se deu o advento do cinematógrafo, o que ele representou para as populações citadinas que o receberam, de que modo a reprodução da imagem em movimento influenciou as outras artes e foi influenciada por elas, etc. Aspectos mais formais do cinema também ganham destaques para que, uma vez estudados, possam nos dar a dimensão de algumas das possibilidades de "manejo técnico" do cineasta numa situação de adaptação de uma obra literária, revelando algumas das dificuldades inerentes a este processo. Questões específicas como as de enquadramento e voz ou foco narrativo central, as estratégias de adaptação do narrador e do estilo e as instâncias de ativação do imaginário no receptor também serão abordadas, a fim de esclarecer certas especificidades da linguagem fílmica. O conto rosiano ganha destaque através de uma análise de sua composição formal e temática, ressaltando questões estilísticas próprias do universo e da poética do autor. Partindo dessa leitura, discutir-se-á com mais propriedade o filme A hora e a vez de Augusto Matraga, de Roberto Santos, realizado no ano de 1965. Refletir sobre o que cada uma dessas artes é capaz de provocar no imaginário do fruidor e tentar enxergar para que "lugar" essas produções o transportam é uma das tarefas que este trabalho também se propõe realizar.
Esta análise da recepção de Grande sertão: veredas no Brasil reflete sobre procedimentos e resultados de uma parcela de sua fortuna crítica: aquela em que se engendram interpretações do
romance de Guimarães Rosa nas quais é posta em discussão alguma possibilidade de vínculo entre a configuração estética do livro e processos políticos e sociais vividos no país.
A dissertação “Grande Canção: Civis” busca extrair verdades civis das fábulas rosianas do Sertão, sobretudo no que diz respeito à tensão da primitividade, enquanto originalidade, e a imposição da civilização, encenada por meio da cena do julgamento e, não só, mas principalmente por meio do personagem Zé Bebelo. O Grande Sertão é visto como uma Grande Canção e a narrativa riobaldiana como um canto musal de sofrimento pela irreparável perda de Diadorim, representado, sobretudo, pela canção de Siruiz. A dissertação faz uso da fortuna crítica acerca da obra rosiana e situa-se na tangente das correntes que a constituem: a exegética, a sociologia e a mística
Faculdade de Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas
Esta tese entende Grande sertão: veredas de João Guimarães Rosa como síntese da literatura brasileira. Tanto por absorção e transformação quanto por palimpsesto, Rosa recria o ponto de vista, práxis, temas, motivos e tons literários barrocos, árcades, românticos, até tendências modernas. A práxis literária nacional encontra-se não misturada, mas como ressonância da universal. Rosa busca os pontos de contato entre elas, como uma ancestralidade contida nos genes primordiais de nossa literatura: as ressonâncias da Antiguidade na modernidade. Essas absorções e transformações também são responsáveis por unir em um único espaço literário os mitos dos quatro cantos do mundo, inaugurando a visão mitopoética do Grande sertão, de indissociabilidade entre passado, presente e futuro, unidos rapsodicamente numa narrativa original e originária.