A proposta do presente trabalho consiste no exame da confiabilidade do protagonista-narrador Riobaldo, em Grande sertão: veredas, e na investigação da sua constituição identitária masculina, principalmente no tensionamento com Diadorim, personagem que também oportuniza a verificação dos modos de configuração de masculinidades. Para isso, a orientação teórica se dá com Theodor Adorno (“Posição do narrador no romance contemporâneo”), Cristiane da Silva Alves (“A formação dos homens e a violência em Grande sertão: veredas”), Mônica Raisa Schpun (Masculinidades), entre outros.
Se a crítica de Grande sertão: veredas tem avançado no comentário sobre a qualidade sensual da amizade entre o protagonista-narrador Riobaldo e o jagunço Diadorim, há ainda um percurso a pavimentar em relação às companheiras prostitutas Maria-da-Luz e Hortência/Ageala. O presente trabalho consiste em contrastar os pares Riobaldo/Diadorim e Maria-da-Luz/Ageala enquanto distintas ordens homoafetivas e resgatar a existência lésbica de sua condição periférica no Grande sertão. Para tanto, tem por baliza teórica as formulações de Eve K. Sedgwick, em Between men (1985), e de Terry Castle, em The apparitional lesbian (2003), entre outros. Analisa, também, a condição travestida de Diadorim, que lhe permite criar uma terceira margem em termos de gênero.