É este um estudo sobre os prazeres da mesa na vida e obra de Guimarães Rosa. Serão aqui analisados tanto os cadernos de receitas culinárias de sua esposa, Aracy, quanto os romances “Dão-Lalalão” e “Buriti”, de João Guimarães Rosa. Nossa hipótese era que as receitas poderiam trazer à tona a cozinha mineira. Descobrimos que a vida doméstica era o espaço onde se cultivava a culinária cosmopolita alemã, enquanto a literatura rosiana era o espaço onde se preservava a culinária regionalista mineira. Descobrimos também um convite das receitas para o amor, que aparece tanto nos nomes de doces, quanto nos romances de Noites do sertão. Afinal, a psicanálise mostra que o ato de comer busca a satisfação da fome e do amor.
O texto relata nossa experiência de organização da Série Correspondência do Fundo Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, pertencente ao Instituto de Estudos Brasileiros da USP, entre os meses de agosto de 2005 e junho de 2006. O artigo descreve o processo através do qual os documentos foram arranjados, além de apresentar algo de seu conteúdo.
O presente trabalho propõe a reflexão de um elemento de fora do perímetro textual: a dedicatória de Grande sertão: veredas, romance de João Guimarães Rosa, subsidiado pela leitura da correspondência trocada entre o escritor e sua mulher, Aracy Moëbius de Carvalho Guimarães Rosa. A análise desses dois elementos paratextuais possibilitou uma escuta diferenciada do romance, permitindo que os espaços da ficção e da vida pudessem ser entretecidos. A abordagem aqui apresentada, tal como defende algumas vezes o autor mineiro, considera o traço autobiográfico da sua ficção, o que se comprova por meio da análise cuidadosa da correspondência íntima de ambos.