Este trabalho pretende apresentar um panorama da leitura no Brasil e os entraves educacionais do país que dificultam a formação do leitor literário. Diante disso, sob a Teoria da Recepção, é possível identificar os espaços do “leitor” na obra Grande Sertão: Veredas (1956) o qual deve reconhecer o espaço do narrador, da linguagem e da obra para ampliar sua leitura e se tornar um organizador dessas categorias. Logo, a obra de João Guimarães Rosa se apresenta como uma travessia viável para formação do Leitor.
Este trabalho pretende estabelecer relações entre história, geografia e as teorias do espaço literário na obra Grande Sertão: Veredas (1956) de João Guimarães Rosa. Para se lançar uma visão holística sobre a composição rosiana, o espaço é abordado a partir de quatro categorias literárias: i) representação do espaço para tratar dos aspectos físicos e de organizações sociais revelados pelo sertão; ii) espaço como focalização no qual Riobaldo é apresentado como um espaço de memória e de reconstrução do passado, ou seja, espaço visto (jovem jagunço em aventuras físicas e amorosas), e espaço vidente (ex-jagunço, narrador, rico, velho a reconstruir sua vida pela narração); iii) espaço como linguagem, categoria de maior elaboração formal na qual a linguagem é o espaço dela mesma, autorreferencial e reveladora; iv) espaço como forma de estruturação textual no qual a grande extensão da obra se torna um lugar de criação e de perdição do leitor. Assim, conclui-se que essas categorias colaboram para uma leitura mais ampliada da obra, como partes de um quebra- cabeça que só fazem sentido no todo. Logo, o leitor deve reconhecer o espaço do narrador, o da linguagem, o representando e a sua estruturação em obra para ampliar sua leitura e se tornar um organizador dessas categorias, pois, ao descobrir seu espaço, ele não se torna um sujeito passivo que é conduzido pelo narrador e enganado pelas ocultações da estrutura e da linguagem, porém, um agente que aprende que a geografia do sertão é imprecisa e constantemente modificada por quem se localiza; que o ponto de vista do narrador pode ser ampliado pelas lacunas daquilo que ele não diz; que a linguagem só trata da realidade quando não é documental e se reinventa no fazer artístico; e, por fim, que uma obra pode ser um espaço desmontado sempre e à espera de uma reconstrução. Enfim, trata-se de um romance de aprendizagem, no qual o leitor interage com as incertezas e dúvidas do narrador e faz uma travessia autônoma, sempre esclarecedora e de conhecimento dos dilemas humanos.