Neste artigo pretendemos examinar as duas versões francesas do conto “A terceira margem do rio” (1962 e 1982), de João Guimarães Rosa (1908-1967), separadas por um intervalo de vinte anos de publicação, e verificar em que medida se pode estabelecer uma avaliação das traduções que corresponda à poética rosiana. Esse problema advém das necessidades e obstáculos inerentes à atividade tradutória e também dos múltiplos discursos que a revestem com o emblema de uma prática problemática. Ainda mais, quando tal obra literária, a exemplo do conto “A terceira margem do rio”, submetido à tradução, envolve dificuldades muito além de qualquer tautologia a que a tradução poderia recorrer. Entre tais óbices, rupturas com a sintaxe tradicional e regionalismos que demonstram realidades particularíssimas, entre outras. Para alcançar tal fim, recorrer-se-á aos argumentos de Paulo Rónai (1981, 1987 e 1990) que, não sendo irredutíveis a uma única concepção tradutória, guardam um rico incentivo a leituras e teorias diversas. Portanto, partindo de Paulo Rónai, selecionamos um repertório teórico que, relevante ao projeto rosiano, fosse capaz de explicar as escolhas estilísticas do autor e das tradutoras.