A criança e a primeiridade das estórias rosianas é uma proposta de se traçar caminhos para o projeto po-ético-existencial de Guimarães Rosa, fazendo emergir a criança como imagem seminal e propulsora. As estórias têm a primeiridade como característica fundadora e fundante. São criadoras de mundos e, em mesma medida, apontam para o ver o mundo como a primeira vez, são convite à vivência demoníacointuitiva da vida. Essa chave de leitura estende-se a toda a obra rosiana, em seu compromisso com a metamorfose do homem, sua transcendência e a ruptura contida na primeira vez. O trabalho aponta para “O espelho” e “A hora e vez de Augusto Matraga” como mitos fundadores rosianos, representantes do magistério da busca pela hora e vez, pela vez primeira, pela criança original. Dessa forma, segue-se a abordagem de estórias que fazem emergir as crianças rosianas, crianças originais em proposta de metamorfose. No entanto, para explicitarmos que rosianamente a infância é a origem da vida, não como marco cronológico e sim como princípio ontológico, e que, portanto, pode presidir ao início, ao meio e ao fim de uma existência, também velhos-meninos participam desse trabalho. A importância da criança no universo rosiano é ponto de início e culminância do presente estudo. As estórias são propostas de Coragem e Alegria como autoafirmação existencial do homem e suscitam a questão seminal: “Você chegou a existir?” (ROSA, 1988: 72).