O objetivo do presente trabalho é refletir sobre a releitura dramática que a diretora Bia Lessa fez da obra Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa. Com apoio de pressupostos teóricos de pensadores como Peter Brook, Bertold Brecht e Roland Barthes, a intenção é examinar a encenação do romance a partir do texto dramatúrgico (escrita cênica) construído pela própria diretora. Com vasta experiência em adaptações para o teatro de obras literárias canônicas (O homem sem qualidades, de Robert Musil; Os possessos, de Dostoievski; e muitas outras), Bia Lessa coloca em cena diferentes linguagens, tais como a expressão corporal trabalhada no limite e uma arquitetura cênica surpreendente. Assim, o sertão rosiano salta das páginas para o palco, eclodindo em pura teatralidade.
Nota-se, na contemporaneidade, um complexo sistema de interações, em que os meios eletrônico-digitais, associados a formulações visuais, sonoras, espaciais e verbais têm proposto um novo paradigma nas artes e na Literatura. Os diferentes olhares lançados sobre a obra de Guimarães Rosa dão a dimensão desse constante processo de reconstrução da obra literária, que ressurge ora em seu aspecto artesanal, ora no industrial, ora eletrônico-digital. Pretende-se, a partir da análise das relações entre Grande Sertão: Veredas, de Guimarães, e suas transcodificações plásticas, produzidas por Arlindo Daibert, e imagético-interativo-espaciais, por Bia Lessa, promover reflexões sobre a tradução do texto literário para outras Artes, especificamente as artes visuais – imagem e instalações - que se utilizam ou não dos recursos midiáticos ou tecnológicos, evidenciando uma intensa interface entre ambos os campos.