O TEMA do centro é trabalhado simbolicamente em Grande sertão: veredas. Ele é construído mediante uma série de recursos discursivos e narrativos, tem fontes as mais diferentes e engloba diversos sentidos, inclusive por conter os elementos básicos de que é feito o mundo, segundo os antigos. Diversos sentidos e seus recursos são apresentados neste artigo. A pedra de toque é dada pela positividade. É que dentre tantas leituras de Guimarães Rosa, e no momento em que a tendência é a de ler o grande romance como reflexo da história, vale a pena ressaltar que a sua marca fundamental é a esperança na mudança, na reviravolta, no resgate, na vida enquanto conditio sine qua non da travessia. Positividade que não exclui o negativo - positividade includente.
Neste estudo, coteja-se heresias que povoam o imaginário popular brasileiro. Supõe-se que a Inquisição e o exílio de cristãos novos (hereges) no Brasil - importante contingente na formação da população no País - contribuiu significativamente para difusão de ideias provenientes de heresias condenadas ao mesmo tempo em que promoveu a assimilação de anátemas contra tais heresias.
Mostro como não se pode considerar que João Guimarães Rosa tenha aproveitado diretamente as idéias platônicas, a não ser que se leia Platão com a interpretação de phármakon de Derrida. Falo sobre a intercambiabilidade dos sentidos das palavras, através do uso das mesmas em novos contextos, com pequenas variações, aptas a fazer com que seus sentidos originais sofram mudanças permanentes. O segredo (cifra do intervalo), por exemplo, provocador de culpa (morte) — com confissão ou enquanto relato — desvela e revela, sendo fator de conhecimento. O segredo é veneno e remédio. Como o chumbo na cena de Grande Sertão: Veredas, que é remédio ou veneno. Para João Guimarães Rosa, o estilo é a imagem do próprio sistema de escritura, poético, de cuja tensão despontam intuições do universo. Não há uma essência da escrita, nem do conhecimento, não há logos, nem mythos, mas um conhecimento que se constrói passo a passo e que termina no paradoxo do "homem humano", criador e criatura da palavra, da fala e da escrita.