Este trabalho explora o encontro entre artifício e ausência, um encontro definido pela impossibilidade de se representar, articular ou mesmo conceber aquilo (ou aquele) que inexiste. Mais especificamente, discute como - em Grande Sertão: Veredas (GSV)- João Guimarães Rosa logra sugerir a presença, no próprio cerne da experiência narrada, de uma privação radical e diabólica. Privação que, entretanto, jamais chega a representar na narrativa. Recorrendo a Agostinho, Pseudo-Dionísio e Boécio, sugere-se que essa ausência do diabo apropria, rearticula e, por fim, subverte – por hipérbole – um procedimento neoplatônico constitutivo da teologia Cristã: a tipificação do mal como mero privatio boni ou falta do bem.
Neste estudo, coteja-se heresias que povoam o imaginário popular brasileiro. Supõe-se que a Inquisição e o exílio de cristãos novos (hereges) no Brasil - importante contingente na formação da população no País - contribuiu significativamente para difusão de ideias provenientes de heresias condenadas ao mesmo tempo em que promoveu a assimilação de anátemas contra tais heresias.