A proposta deste artigo é ler “A hora e vez de Augusto Matraga” como uma narração do sertão que o define como um espaço geográfico específico, mas também, e principalmente, como um espaço simbólico e imaginário relacionado à nação. Para tal delimitação, salientamos as fronteiras e as diferenças que o texto narra e que acabam por solapar classificações dualistas na interpretação do Brasil. Assim, atentamos, principalmente, para as caracterizações da personagem que dá título à novela, pois lemos a estória seguindo sua trajetória, passeando pelo sertão: imaginando códigos e leis baseados na oralidade e não na institucionalidade e na escrita. Por esse viés, olhamos a violência e a vingança pessoal como estratégia narrativa que define fronteiras simbólicas: o sertão é a fronteira imaginária de uma geografia mítica, espaço fora-da-lei, mas, ao mesmo tempo, síntese nacional.
Este artigo apresenta um breve estudo sobre o conto "A hora e vez de Augusto Matraga" de Guimarães Rosa. O objetivo é analisar a linguagem de estilo regionalista, os processos de criação e seu valor gramatical. No conto se busca analisar os modos de linguagem utilizados pelos jagunços, peões e vaqueiros no dia a dia de suas atividades, percebendo que a linguagem é um instrumento de poder utilizados por eles. Serão abordadas questões que dizem respeito à linguagem regional utilizada pelo homem rústico, o camponês do interior de Minas Gerais. Também foram analisadas no conto as palavras novas (neologismos), que acrescentadas para a formação de palavras, tais como a composição e a derivação e outras relações morfo-semântica na criação do léxico regional, que se apresentam na linguagem oral de seus personagens.
A percepção de que as experiências vivenciadas pelo homem na modernidade transfiguraram as narrativas literárias temática e formalmente, estabelece o escopo para requisitar a alegoria como instância explicativa dessa nova realidade. Sobrepujando o símbolo como recurso para consignar validade estética à arte, no livro Origem do drama trágico alemão, Walter Benjamin vislumbra a alegoria como a revelação de uma verdade oculta que não representa as coisas apenas como elas são, mas oferece, também, uma versão de como elas foram ou poderiam ser. Como ressonância dos fundamentos implicados nessa leitura, este trabalho adota a alegoria como categoria analítica visando identificar as diversas formas como a violência se presentifica no conto A hora e a vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa. Como linha de força da contextura material que enlaça a narrativa, a nossa interpretação manterá diálogo com os condicionantes históricos de uma época em que os valores sociais no Brasil estavam em franca transição, exigindo adequações estéticas capazes de incorporar a visão de um sertão místico, violento e encantatório.
“A hora e a vez de Augusto Matraga”, conto que faz parte da coletânea reunida em Sagarana, de Guimarães Rosa, e O Malhadinhas, de Aquilino Ribeiro, são textos que deixam transparecer elementos indicadores da presença de aspectos medievais em sua constituição. Assim, este trabalho tem por objetivo identificar a ocorrência e a manifestação da prática do duelo e do ideal de honra nesses dois textos, colocando-os em confronto. Observa-se em Antônio Malhadas e Augusto Matraga personagens que guardam semelhanças e diferenças em relação aos referidos aspectos. Procuramos evidenciar, no decorrer da análise, essas convergência e divergências, problematizando-as. O comportamento de ambas as personagens apontam para um resgate desses dois temas caros às narrativas medievais em que figuram o herói cavaleiresco. Nesse sentido, Malhadinhas e Matraga são aproximados e confrontados com esse tipo de herói, revelando-se como caracteres importantes para a comprovação de um aproveitamento de aspectos medievais em textos de escritores brasileiros e portugueses do século XX.
Este artigo consiste em evidenciar como a religiosidade permeia, explícita ou implicitamente, a produção literária de Guimarães Rosa, tendo por base os contos “A hora e a vez de Augusto Matraga” (Sagarana), “A menina de lá” (Primeiras estórias); “Bicho mau” (Estas Estórias) e o “pacto” de Riobaldo (Grande sertão: veredas). A análise incide em pontuar certas constantes do imaginário religioso e sua relevância em cada narrativa e também na instauração do questionamento sobre a verdade oculta que rege o universo e na busca do “aprender a viver”, acentuada preocupação do autor mineiro.