No conto "Desenredo", integrante de Tutaméia (1967) de João Guimarães Rosa, os arquétipos da dualidade feminina emblematizam os atributos do posicionamento da mulher frente ao mundo. Adúltera, a personagem central é a Bruxa, a Grande prostituta, Lilith, encarnando a alma bacante, o protótipo dionisíaco, porém, no desfecho da narrativa, de forma mágica o amante consegue recompor aos olhos dos outros a imagem da mulher, temida e odiada pelos moradores do lugar. Reintegrando o arquétipo da Grande Mãe, a personagem passa a ser retratada como a Virgem, o arquétipo de Eva, representando a perfeição e a pureza: metas da aspiração masculina reconhecidas pela tradição de Eros. É, pois, seguindo essa linha de reflexão que faremos uma leitura do referido conto procurando reconhecer símbolos e arquétipos da dualidade expressos na arquitetura ficcional.
Este trabalho procura discutir alguns aspectos do mito do eterno retorno indiciado no conto “Arroio das Antas”, integrante de Tutaméia: terceiras estórias (1967) de João Guimarães Rosa. No conto, a conotação simbólica revelada pelas imagens recorrentes na caracterização da personagem feminina, focaliza aspectos que evidenciam o papel da mulher associado à Cosmogonia e ao sentido de retorno às origens.
Este trabalho pretende analisar os contos “Umas formas” e “Estória n. 03” integrantes de Tutaméia: terceiras estórias (1979) de João Guimarães Rosa, dando destaque à aliança que se estabelece entre o real e o impossível na engenharia do texto e no arcabouço da linguagem literária. Para tal direcionamento, o viés teórico convocado é a noção contemporânea de fantástico, em particular a concepção endossada por Cortázar (2008), Calvino (2004) e Roas (2011, 2014), dentre outros estudiosos do gênero que destacam a dimensão transgressora da realidade para além do textual, sobretudo a noção de que o fantástico se instala no entrelaçamento do natural e do sobrenatural, do estranho e do familiar, do possível e do impossível.
Este trabalho examina alguns aspectos da criação ficcional de João Guimarães Rosa, procurando identificar o modo pelo qual o Nome adquire o estatuto de palavra. A partir da análise de alguns escritos do próprio autor, pertencentes ao Arquivo Guimarães Rosa do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo ? IEB/USP, procura-se demonstrar como o escritor trabalha artifícios da língua, utilizando a fórmula poderosa da alquimia da linguagem.
O presente artigo tem por objetivo apresentar a dimensão simbólica do nome próprio, com base nos princípios do mito e da língua, em geral, e da onomástica poética, em particular. Procura ressaltar o modo pelo qual o Nome assume o estatuto de signo no discurso narrativo, em especial nos textos de Tutaméia de Guimarães Rosa.
Neste trabalho procuramos apresentar o papel que desempenham os nomes de personagens nas narrativas de Tutaméia de João Guimarães Rosa, destacando o modo pelo qual se desenvolvem a poeticidade da forma e a relação entre o sistema onomástico e a construção da história narrada. A análise aborda os textos de Tutaméia à luz dos nomes de seus personagens, acata o problema do nome próprio como um elemento que não se restringe apenas a designar o personagem. Aqui o nome é apreendido enquanto ponto de referência poética e enquanto recurso expressivo da realidade subjetiva do sujeito nomeado. O objetivo que se impôs ao presente trabalho foi observar o modo pelo qual o Nome assume o estatuto de um signo, como opera a função de denominar, explicar, fixar e expor peculiaridades do personagem e da estrutura narrativa, de que maneira a expressividade do significante referenda coisas ditas e não ditas no conteúdo narrado. Na análise do "nome próprio rosiano", percebemos que as possibilidades oferecidas pelos componentes materiais que o constitui - visual e sonoro - estabelecem relações inesperadas de significação. Nesse sentido, o Nome é concebido como um recurso estilístico que se desdobra em significados para tornar-se um plurissigno, sustenta a ambigüidade do discurso narrativo e aponta a fluidez e a ambivalência subjetiva da realidade de seu portador. Sob tal enfoque, não consideramos o nome próprio como elemento exterior à narrativa literária, uma vez que, na obra de Guimarães Rosa, seu efeito depende das relações que se estabelecem no texto. Consideramos que o Nome rosiano é um signo motivado que apresenta uma relação direta entre o significante e o referente, é uma marca de individuação do personagem e se constitui como traço peculiar na construção da narrativa.
Em A Poética do espaço, Bachelard (1989) concebe o espaço da casa como um “estado de alma”, espaço que “fala de uma intimidade”. Sob a ótica bachelardiana, a casa constitui o sujeito, fixa sua memória e suas raízes. Roberto da Matta (1987) em seu livro A casa e a rua afirma que a casa é o espaço da família, da ordem e do conforto, em oposição à rua que representa o lugar público da desordem, do perigo e do anonimato. É, pois, seguindo esta linha de raciocínio que este trabalho – recorte de um estudo maior - se propõe a analisar aspectos do espaço e da identidade no conto “Faraó e a água do rio”, integrante de Tutaméia: terceiras estórias (1967), obra de João Guimarães Rosa. Trata-se de um enfoque teórico-crítico da narrativa rosiana, tendo como propósito identificar, na arquitetura ficcional, o imaginário circunscrito na lei da ordem familiar, representada na imagem dos fazendeiros da Fazenda Crispins, com suas tachas de cem anos de eternidade - um mundo de identidade marcada pelos espaços partilhados e por traços de um cotidiano organizado – em oposição aos aspectos que regem as regras básicas do viver mundano, itinerante, e clandestino, expresso na figura dos ciganos. A narrativa pontua a dicotomia entre casa e rua, terra e desterrado, lugar e não-lugar – modos de vida diametralmente opostas desses sujeitos, fazendeiros e ciganos, de sinas tão contrárias: os primeiros fadados a conviver até a morte em suas terras, passadas de pai pra filho, de geração para geração, tal como aconteceu com a fazendeira Siantônia; os ciganos, por sua vez, nômades e fugitivos, são aqueles que, por ordem do Faraó, fazem da mobilidade e da incerteza os princípios básicos de seu viver. É oportuno afirmar que os fazendeiros representam a tradição, expressa na metáfora da casa, enquanto que os ciganos emblematizam o espaço aberto e infinito, sujeitos inscritos na sociedade do instante, da insegurança e da adversidade, signo da “mentalidade de sobrevivência” tal como concebe Cristhopher Lasch (1987) ao referir-se a nova relação que o homem contemporâneo tem com o espaço, o que se apreende de seu conceito “mínimo eu” como marca do sujeito da pós-modernidade.
Em A Poética do espaço, Bachelard (1989) concebe o espaço da casa como um “estado de alma”, espaço que “fala de uma intimidade”. Sob a ótica bachelardiana, a casa constitui o sujeito, fixa sua memória e suas raízes. Roberto da Matta (1987) em seu livro A casa e a rua afirma que a casa é o espaço da família, da ordem e do conforto, em oposição à rua que representa o lugar público da desordem, do perigo e do anonimato. É, pois, seguindo esta linha de raciocínio que este trabalho – recorte de um estudo maior - se propõe a analisar aspectos do espaço e da identidade no conto “Faraó e a água do rio”, integrante de Tutaméia: terceiras estórias (1967), obra de João Guimarães Rosa. Trata-se de um enfoque teórico-crítico da narrativa rosiana, tendo como propósito identificar, na arquitetura ficcional, o imaginário circunscrito na lei da ordem familiar, representada na imagem dos fazendeiros da Fazenda Crispins, com suas tachas de cem anos de eternidade - um mundo de identidade marcada pelos esp
Guimarães Rosa serviu-se de toda a técnica e engenhosidade para ressaltar características do conto, destacando que o gênero busca na anedota, na fábula, na adivinha e no mito os meios para sua tessitura, o que na terminologia de André Jolles são concebidos como "formas simples". Em sua prosa inovadora, encontramos situações da vida real e imaginária, numa atmosfera poética de sondagem mítica do mundo, confluindo a poesia e a prosa, saber narrativo em que se observa a universalidade, a mobilidade e fluidez do gênero, tal como o entendemos hoje. Sob tal perspectiva, este trabalho pretende oferecer uma reflexão sobre algumas determinantes do conto à luz dos postulados rosianos, partindo do pressuposto de que esse é um caminho possível para a compreensão do fazer poético do escritor e, sobretudo, do conto brasileiro contemporâneo.