Este trabalho pretende sugerir mais uma leitura sobre “A escova e a dúvida”, um dos quatro prefácios de Tutameia - obra de Guimarães Rosa que apresenta uma maturidade e um hermetismo próprios das geniais e astuciosas armadilhas com os quais o escritor-sertanejo instiga seus leitores. Com esse olhar, pode-se observar uma nova perspectiva sobre o fazer literário, baseada em uma relação de reconhecimento, interlocução e aceitação de inúmeros componentes ideológicos e interdisciplinares, que se conjugam e se complementam para a formação de discursos dialógicos e plurais. Estes, por sua vez, acabam se tornando elementos significativos para o reconhecimento de um novo e ousado expediente literário, a conjugar a invenção e a opacidade como interlocutores de um projeto de sensibilidade ímpar, moderno e contemporâneo. Nesse sentido, espera-se argumentar que tal projeto, expresso em parte no citado texto, abdica dos princípios canônicos e tradicionalmente aceitos como esteticamente válidos para
Quando foi inaugurada, a cidade de Brasília visava a marcar um espaço de convergência do Brasil em torno de um ponto situado em seu interior. A cidade, ícone maior do projeto desenvolvimentista de JK, trazia a imagem do arrojo técnico, da vanguarda, do progresso brasileiro. Acreditamos ser próprio do trabalho intelectual trazer à discussão elementos que tornam o espaço não tão tranquilizador. João Cabral de Melo Neto e João Guimarães Rosa registraram impressões relativas à nova capital federal. Suas criações contribuem para questionar, a partir de imagens heterotópicas, valores relativos ao mito unidade nacional. Por outro lado, os autores apostam na modernidade, sobretudo estética,
como modo de superar estruturas arcaicas.
A partir das narrativas "Fita verde no cabelo (Nova velha estória)" e "Uns inhos engenheiros", investigar – no trabalho com a linguagem – recursos retóricos de construção que possibilitam ao signo motivado engendrar-se, na constituição de si, como polarizador de limites e fronteiras.
Guimarães Rosa serviu-se de toda a técnica e engenhosidade para ressaltar características do conto, destacando que o gênero busca na anedota, na fábula, na adivinha e no mito os meios para sua tessitura, o que na terminologia de André Jolles são concebidos como "formas simples". Em sua prosa inovadora, encontramos situações da vida real e imaginária, numa atmosfera poética de sondagem mítica do mundo, confluindo a poesia e a prosa, saber narrativo em que se observa a universalidade, a mobilidade e fluidez do gênero, tal como o entendemos hoje. Sob tal perspectiva, este trabalho pretende oferecer uma reflexão sobre algumas determinantes do conto à luz dos postulados rosianos, partindo do pressuposto de que esse é um caminho possível para a compreensão do fazer poético do escritor e, sobretudo, do conto brasileiro contemporâneo.
Este artigo tenta compreender o papel do menino como representação social e como ele influencia na formação da sociedade. Neste trabalho relatar-se-á sobre essa temática, estudando o menino em“As margens da alegria” de Primeiras Estórias (1962) e o menino da doida em As Filhas do Arco-Íris (1980). A experiência vivenciada pelo narrador de “As margens da alegria” retoma os desejos da infância, as alegrias de ver novos lugares e se vislumbrar com a perfeição da natureza, da diversidade e com características de um animal. Para o Menino, o momento é de aprendizagem, pois vivencia as mais diversas experiências. Em As Filhas do Arco-Íris, um menino narra sua infância sofrida e alegre no meio da comunidade de Gurinhatá. Ao mesmo tempo em que conta a história da vila até a chegada da modernização convive com o cego, o bêbado e o doido, e aprende a narrar ouvindo as estórias do velho Pai Estevão.
Este ensaio discute a circulação de Sagarana, livro de estreia de Guimarães Rosa lançado em 4 de abril de 1946. Para tal, analisa cinco cartas endereçadas ao escritor nos anos de 1946 (3 cartas), 1951 (uma carta), 1953 (duas cartas), 1954 (uma carta) 1967 (uma carta). Os pressupostos teóricos que orientam a pesquisa são o discurso epistolar e a estética da recepção.