Lançada em 1954, integrando o livro Corpo de Baile, a novela "Cara-de-Bronze" é geralmente citada por seus estudiosos por sua requintada experimentação de linguagem e de forma, e por guardar em si possibilidades de uma hermenêutica que nos leve ao entendimento da composição das outras narrativas de Corpo de Baile. Um dos pontos que nos levam a entender a relação desta narrativa com as outras do livro é a percepção de que o estado lúdico previsto pelo estético faz parte do cotidiano sertanejo apresentado, sobretudo na criação e narração de estórias (como acontece com o personagem Grivo e com o violeiro Quantidades), como maneira de buscar uma fuga para as mazelas da realidade circundante. Esses movimentos de invenção de estórias estão justamente dentro do plano estético alcançado, entendendo, segundo Schiller, nessa criação, a necessidade de um plano lúdico. Nesse viés, faremos o diálogo de Guimarães Rosa com as teorias do filósofo alemão Friedrich Schiller (1759-1805), sobretudo em Car
No final do século XVIII, com a consciência do relativismo cultural, a teoria da tradução começa a tomar rumos diferentes dos da tradição francesa que pensava a tradução como belle infidèle. Caminhando ao lado de uma filosofia da linguagem que vê o mundo como um texto a ser decifrado, uma nova concepção de tradução desenvolve-se. Assim, além de traduzir de uma língua para outra, o próprio mundo deveria ser traduzido e a tradução passa a ter o sentido de conhecimento. Márcio Seligmann-Silva sugere que ao invés de pensarmos no tradutor como “traidor”, devemos tomá-lo por “introdutor”, um leitor privilegiado que quer transmitir a sua Erfahrung (experiência) com o texto. Neste artigo, pretende-se discorrer sobre a concepção de tradução como transmissão de experiência. Para tanto, tecemos aproximações entre a tarefa do tradutor e a do narrador, no sentido de que Walter Benjamin desenvolve em suas teses. Em um primeiro momento, tomamos como suporte a leitura da novela "Cara de Bronze", de João Guimarães Rosa, uma vez que identificamos na trajetória do personagem Grivo um emblema do narrador e do tradutor benjaminiano. Em seguida, ampliamos a discussão em torno da tradução e convocamos para dialogar com a filosofia de Benjamin, autores como Haroldo de Campos e Vilém Flusser.
O artigo reflete mais diretamente sobre duas das sete narrativas de Corpo de Baile, de João Guimarães Rosa (1956). Com o desdobramento em 3 outros livros que se dá na 3ª edição (1964/65), “O recado do morro” e “Cara-de-Bronze” passam a integrar o “Livro 2” da obra: “No Urubuquàquà, No Pinhém”, também formado pela novela “A Estória de Lélio e Lina”. A proposta coloca em diálogo as mudanças editoriais do livro no tempo, atestadas nas correspondências do escritor, com os enredos e temas das duas narrativas, apontando e analisando um movimento de escrita que ao mesmo tempo é artística e histórica. Nessa perspectiva, concebe-se o sentido histórico delineado em uma composição literária elaborada no uso de outras linguagens artísticas. Assim, menciona-se no artigo a linguagem cinematográfica, elaborando historicidade na narrativa, e corporeidade sonora das imagens, onde se situam as marcas musicais. Pela trama literária, estará marcada o que apontamos como temporalidades múltiplas, que escrev