O presente artigo tem por objetivo estabelecer uma reflexão acerca das relações entre literatura e os Estudos Animais, a partir do diálogo com produções literárias e filosóficas.
“Cara de Bronze” é um dos mais notáveis contos de João Guimarães Rosa, no qual ele narra a história de um rico fazendeiro, que vive fechado em sua propriedade, rodeado de vaqueiros, que são seu único canal de comunicação com o mundo. Tudo se passa num único dia e em nenhum momento temos acesso à voz direta da personagem. Através de diferentes formas de discurso, descobrimos que ele se esconde, porque pensa ter assassinado o próprio pai. Quarenta anos depois, descobre que o pai tinha caído, porque estava sob o efeito do álcool e não atingido pela bala de seu revólver. Sozinho, perto da morte, pede a Grivo, seu mais fiel vaqueiro que vá procurar numa longa viagem a essência da vida, “o quem das coisas”. O que ele queria era receber do Grivo os relatos de seu tempo perdido, uma espécie de medicamento em forma de palavra.