Este ensaio pretende examinar o relato mnêmico do primeiro encontro entre Riobaldo e Diadorim, e suas repercussões na mentalidade e no comportamento desses personagens, sobretudo, perante a noção de masculinidade que é formada às sombras deste episódio. Para tal, há de se recorrer a bases teóricas elaboradas para abordar a dicotomia de gênero e sua co-construção na atividade social. À vista disso, pressupõe-se que a relação estabelecida entre os personagens deste episódio ilustra o conceito de homossociabilidade: ainda que esta não tenha sido a primeira experiência pública e/ou monossexual de Riobaldo, é uma das memórias mais antigas de sua infância relembradas na obra. Nesta, sobressaem-se normas e limites reiterados socialmente, a mimese infantil e importantes noções que dão base à persona jagunça do personagem-narrador.
Neste artigo, pretendo apontar as diferentes crenças religiosas presentes no livro Grande Sertão: Veredas (1956), de João Guimarães Rosa, apresentadas por meio da narração do protagonista Riobaldo, e como ele conviveu de maneira harmoniosa com essa realidade sincrética. A intenção é demonstrar, sem compromisso teológico ou filosófico, que o romance rosiano nos leva a refletir sobre o hibridismo inerente à essência humana. A proposta é ensaiar uma leitura de como Rosa, neste romance de formação, nos mostra a constituição identitária da fé do herói Riobaldo, um homem sertanejo que transitou com naturalidade entre ditos populares, presságios, preceitos católicos, espíritas e protestantes, algo tão característico da cultura do povo brasileiro.