Este artigo propôs-se a examinar algumas unidades lexicais do léxico rosiano de Grande Sertão: Veredas, considerando os parâmetros da mais recente pesquisa teórica de Maria Aparecida Barbosa, a
Etnoterminologia. Estamos nos referindo à instigante dinâmica linguística que revela representações acerca dos fatos, concepções e visões de mundo, convenções culturais, tradições, crenças, formas de perceber, sentir, pensar e simbolizar a realidade: o discurso etnoliterário materializado no conteúdo conceptual e semântico atualizado por Guimarães Rosa, com sua reconhecida e rigorosa precisão, conteúdos esses que são desvelados nos traços específicos ou nos conceitos de cada unidade lexical, inventada ou reinventada em sua obra.
A manipulação da linguagem em Grande Sertão: Veredas que me propus estudar vai ser enfocada, sobretudo a nível pragmático. Guimarães Rosa usa as virtualidades do código linguístico para forjá-lo ao caráter do homem sertanejo, tendo o jagunço Riobaldo como porta-voz. Esquivando daquilo que ele próprio anuncia como verdadeiro, real, Riobaldo anula e contradiz suas próprias verdades, embarcando o leitor numa aventura perigosa e complexa. O conceito de elipse como figura geométrica com duplo centro vai servir de métafora à realidade dúbia e paradoxal que o texto constrói. O anel de Moebius reflete o incessante movimento contrário que a linguagem rosiana provoca.